domingo, 17 de agosto de 2014

Os Chico-Espertos

Na minha visita ao Zoomarine que vos contei no post em baixo, nem tudo foi perfeito. E quem decidiu arruinar uma pequeníssima parte do meu dia foi uma família de chico-espertos.
Como vos tinha dito, a primeira sessão dos golfinhos, às 10h30, estava completamente lotada. Mesmo ficando a pé teria que ficar na segunda ou terceira linha. Como sou metro e meio de gente, não conseguia ver absolutamente nada. Por isso, e como os meus pais também não estavam bem, decidimos sair, ver o espetáculo das focas e esperar até às 12h30, pela próxima sessão.
Ainda assim, decidimos ir 35 minutos mais cedo para conseguirmos um bom lugar. Não foi o caso. Quando chegamos, todos os lugares sentados estavam ocupados e por isso fomos para o topo do estádio e ficamos de pé, mas na primeira fila. Eu fiquei ao lado de uma espécie de varanda onde se lia em três placas "Área Reservada" com o signo de uma cadeira de rodas. Obviamente que dali se via perfeitamente, mas eu era incapaz de ir para lá.
Só tenho uma fotografia que dá para ver um cantinho do espaço que falo:
É aquele cantinho aqui em baixo na foto. Eu estava mesmo atrás, encostada à grade que nos separavam das bancadas.
Depois de lá estar uns 15 ou 20 minutos, as pessoas iam chegando e faziam uma linha ao meu lado, sem nunca passar para a varanda. Entretanto, chegou um rapaz numa cadeira de rodas e ocupou o lugar de direito, à nossa frente.
Faltava uns 10 minutos para a sessão começar e vem uma senhora, com os seus 60 anos e, como quem não quer a coisa, senta-se no muro que veem na imagem, mesmo à minha frente. Deixei de ter visibilidade. A senhora que estava ao meu lado, em linha, disse-lhe que tinha que sair dali porque primeiro, estava a desrespeitar o sinal e segundo, nos estava a tapar a vista. Acrescentou que foi desrespeitoso o que fez, porque nós estávamos ali primeiro e não nos atrevemos a ultrapassar para aquele espaço por respeito e bom senso. A senhora praticamente ignorou e só disse "Quando começar eu saio daqui. Só preciso de me sentar." Tanto eu como a senhora que estava ao meu lado respeitamos e não nos incomodamos com o facto de ela estar sentada à nossa frente, principalmente pela idade. Mas adivinhando a situação que se passaria a seguir, a senhora ao meu lado segredou qualquer coisa ao marido, com desagrado, e os dois saíram dali.
Pois que o espetáculo começou e a senhora não se mexeu. Sempre ali à minha frente.
Senti mesmo que aquilo foi uma enorme falta de respeito e toquei-lhe no ombro e perguntei-lhe, educadamente, se ia sair dali.
Sra: "Não, não vou"
Eu: "Mas a senhora tinha dito que saía mal o espetáculo começasse e só se queria sentar um bocado."
Sra: "Agora não tenho lugar noutro sítio por isso não vou sair daqui."
Eu: "Mas sabe que este sítio está reservado para pessoas com deficiência, não sabe? Por isso, não pode estar aqui. Para além do mais, eu estava aqui primeiro e a senhora veio tirar-me a visibilidade toda."
Sra: "Oiça, eu fui operada à cabeça há duas semanas, tenho que estar sentada."
(Quando o resto das desculpas já não pegam, dão numa de vítimas. Não estou a dizer que a senhora não tinha sido operada, atenção, mas certamente não era ali que deveria estar, principalmente sem chapéu ou qualquer proteção!)
Eu: "Olhe, eu lamento imenso mas se tinha mesmo que arranjar um lugar sentado tinha que vir mais cedo. Eu estou aqui há 35 minutos e a senhora chegou há 15."
Sra: "Pois, mas agora já não há nenhum lugar sentado por isso vou ficar aqui."
(Respirei fundo e voltei a falar muito calmamente sempre a pensar na idade da senhora).
Eu: "Mas sabe que há outras sessões durante o dia não sabe? Olhe, eu já estive aqui na primeira sessão mas como não arranjei lugar saí e voltei para esta."
Sra: "Se a senhora está mal, também pode voltar para a próxima sessão."
(Ai eu fervi - para dentro, claro)
Eu: "Não, não vou. Eu não estou a desrespeitar nada nem ninguém, ao contrário da senhora que está a desrespeitar as pessoas que estão atrás de si e que chegaram primeiro do que a senhora e ainda está a desrespeitar o sinal. Mas eu não lhe vou dizer mais nada. A senhora pode ficar aí o resto do espetáculo à vontade que eu não lhe vou dizer mais nada. Fica na sua consciência."

Virou-me costas e eu calei-me. Não ia mesmo dizer mais nada.
Passado um bocado fez sinal a uma pessoa que apareceu ali imediatamente.
Sra: "Esta menina aqui está a dizer que eu tenho que sair daqui."
Filha (olhando para mim como se eu fosse um monstro): "Porque é que a minha mãe tem que sair daqui?!"
Eu expliquei-lhe toda a situação mas disse-lhe que não mandei ninguém sair, que eu ali não mandava em nada nem ninguém. Só chamei a atenção da senhora.
Filha: "Mas a minha mãe foi operada há cabeça há duas semanas e tem que estar sentada! Foi o funcionário que disse que podia estar aqui." - esta parte não sei se é verdade ou não.
Eu: "Pronto, se tem autorização quem sou eu para discordar. Só acho que deviam de fornecer uma cadeira à senhora para que não tape a visibilidade a ninguém e para que se possa acomodar devidamente."
Filha: "Pois mas não há cadeiras (ahahah - foi aqui que eu desconfiei que elas tinham ido falar com o funcionário). Se quiser que a minha mãe saia diga!!!"
Eu: "Eu só estou a dizer que foi uma falta de consideração para com as pessoas que estão aqui há muito mais tempo do que as senhoras e que se tinham mesmo que ficar sentados, então teriam vindo mais cedo, como as pessoas com crianças pequenas e idosos fizeram... Mas as senhoras é que sabem. Eu não mando em nada!"
Filha: "Mas a minha mãe foi operada à cabeça. Sabe o que é ser operada à cabeça? Não sabe pois não? E só espero que nunca venha a saber menina! Nós vamos embora então."
Enquanto que acabava de me fazer sentir culpada e absolutamente desrespeitosa perante a situação, chegou outro senhor, que percebi depois que era o marido e genro.
Filha para o Marido: "Vamos embora. Esta menina está a mandar a mãe sair daqui."
(Foi aqui que eu desisti de argumentar contra pessoas como aquelas)
Marido (com ar ameaçador. Vinha de manga cava cor de laranja, gordo, careca, piercing preto na orelha esquerda e bermudas de ganga. Juro que não estou a inventar!): "Porque é que está a mandar a senhora embora?! Ela tem que estar sentada porque foi operada à cabeça há duas semanas."
(Respirei MUUUUITO fundo)
Eu: "Não estou a mandar ninguém embora que eu não tenho qualquer autoridade para isso. Se a senhora tinha mesmo que se sentar, porque não vieram mais cedo para a acomodar num bom sítio?"
Filha: (Para o marido) "Vamos, vamos, vamos. Não vale a pena falar com pessoas assim." (Para mim) "Só espero que nunca seja operada à cabeça."

E foram para o outro lado da "varanda" e sentaram-se em frente às pessoas que já lá estavam. Se elas reclamaram ou não, não sei. Mas que ficaram lá durante todo o espetáculo, ficaram.

Não costumo ser tão "intolerante" nestas situações principalmente com pessoas com uma certa idade. Eu ainda me levanto para ceder o lugar às grávidas e idosos em qualquer sítio. Nesta situação não podia oferecer o meu lugar porque não fazia sentido.
O que me irritou verdadeiramente nesta situação toda foram:
- A "ingenuidade" falsa com que se sentou sem qualquer consideração pelas pessoas que estavam atrás e tiveram imenso tempo para fazer o mesmo que ela fez mas não quiseram porque consideravam uma falta de respeito.
- Ser mentirosa. Disse que saía dali mal o espetáculo começasse e depois diz-me que não, não ia sair porque tinha que estar sentada.
- Armar-se em vítima. Se tinha mesmo sido operada à cabeça há duas semanas, então não devia estar ali. Ponto. Muito menos sem proteção. Eu conheço bem uma pessoa que lhe aconteceu o mesmo e a recuperação foi extremamente longa (mais de um ano!). Claro que o sol estava fortíssimo, mas não era só por isso. Havia imenso barulho das crianças a gritar, das colunas... O calor abrasador, a confusão... Estavam reunidas todas as condições para que a senhora não devesse estar ali.
- Já que estava lá, então porque não foram mais cedo para arranjar lugar como as outras pessoas fizeram?
- Dizerem que eu não sei pelo que a senhora estava a passar. E quem lhes disse isso? Quem lhes disse que nunca tive problemas de saúde e que familiares muito próximos e amigos não tiveram? Quem lhes disse que não compreendo? Isso é desculpa?

Mas se a abordagem tivesse sido absolutamente diferente, eu era a primeira a ajudar a senhora se houvesse necessidade. Bastava chegar lá e dirigir-se a mim e explicar-me a situação, que precisava de se sentar, que o funcionário a deixou estar ali mas que não havia cadeiras e por isso teria que ficar à minha frente. Eu logo tratava de me arranjar. Mas não. Decidiu ignorar toda a gente, mentir e armar-se em vítima.

Enfim, podia estar aqui a noite toda a escrever sobre o quanto estas atitudes me deixam a ferver. Mas já perdi tempo demais com isto.
Eu sei que tenho um feitiozinho do caraças mas também acho que as pessoas devem ser ensinadas. Claro que não tive prazer nenhum em fazer o que fiz. Não senti orgulho, muito pelo contrário, fiquei muito triste por haver gente assim e por terem ficado a pensar que eu sou uma cabra filha da mãe. Mas santa paciência, o respeito é muito bonito e eu gosto. Os sinais são para se levar a sério. Se existem é porque, infelizmente, são necessários.

Se voltasse a acontecer esta situação, eu fazia o mesmo. Não era capaz de virar costas como a outra senhora fez. Eu sei que é mais fácil e não chateia, mas eu não consigo, paciência. O respeitinho é muito bonito e eu gosto. Tenho educação e não há chica-esperta que vá mudar isso.

Se toda a gente começasse a reclamar e a "chatear-se", esta espécie cada vez mais em crescimento tenderia a extinguir-se.


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