quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

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Hoje conto-vos a minha opinião sobre 5 filmes nomeados para os Oscars. O que acham?

Manchester by the Sea (8,1 IMDb)
Primeiro de tudo, Manchester do filme fica nos EUA e não no Reino Unido. Primeiro ponto. Acho fundamental esclarecer isto porque no início foi bastante confuso para mim: não havia sotaques britânicos, conduziam pela direita e por fim, para me esclarecer, havia bandeiras dos Estados Unidos nos alpendres das casas. Confuso (ahahaha).

Extraordinário. Mesmo muito extraordinário. Ultrapassou as minhas expectativas. Conta uma história comum, que poderia ser de qualquer um de nós - felizmente que não é! - de uma forma muito natural, muito real e genuína. Não há enfeites nem preocupações de aprimorar o que se está a mostrar, é um filme muito cru. Contam-nos a história de um homem solitário, um faz-tudo, que recebe uma chamada em que lhe dizem que o seu irmão faleceu, deixando o filho de 16 anos sobre a sua tutoria. Lee tem que fazer o seu luto, organizar o funeral, providenciar uma vida normal para o seu espevitado e muito divertido sobrinho e ainda tem que lidar com os seus demónios internos do regresso à sua cidade natal. O que se revela mais difícil do que esperávamos. Há uma forma muito pessoal de lidar com o que está a acontecer e depois há os breakdowns comuns a qualquer ser humano. Identifiquei-me muito - mesmo - com este filme (principalmente com Patrick) porque ele gosta sempre de mostrar que está tudo bem, que aguenta com tudo e que nada o afeta, mas quando tem que ser, é um humano como todos nós e cede, chora, tem ataques de pânico - sempre em privado. Logo a seguir respira fundo e volta a ser quem é. Tal como eu.

Vamos percebendo ao longo do filme, através de memórias, o que se passou na vida de Lee para que tudo mudasse do dia para a noite. E é uma história triste. Porém, mesmo sendo um drama - gira tudo em volta da morte, do arrependimento e da dor - há sempre as piadas certas na hora certa, há sempre muita realidade ali no meio, há momentos constrangedores, como já toda a gente teve. Há sempre cenas que estão retratadas exatamente como na vida de todos os dias, a forma como lidamos com os nossos sentimentos, de como reagimos aos obstáculos da vida... Enfim, é uma história de uma vida normal, de qualquer um de nós, extremamente bem contada, com uma cadência bonita que é lenta mas não o suficiente para nos aborrecermos.

Tecnicamente é ótimo. Os tons escolhidos para o filme assim como a luz e os planos combinam na perfeição com o que está a ser contado e, por outro lado, a banda sonora é tão contrastante, tão inesperada que encaixa na perfeição. Os planos são lindos mas sem intenção de o ser. Também sei que a dinâmica do filme não é a mais consensual e a mais comum em Hollywood. Tem um ar independente e, talvez por isso, deixou de agradar a grande parte das pessoas que escolheram ver o filme. No entanto, neste contexto, só assim faria sentido: o ritmo do quotidiano, do luto e da adaptação a uma nova realidade e a claustrofobia e o "punishment" que Lee provoca nele próprio acaba por definir esse mesmo ritmo do filme. Depois daquele acontecimento a vida dele ficou presa num loop em que ele se sente na obrigação de "limpar a porcaria dos outros", deixar de ter posses ou de se relacionar com os outros mais do que o extremamente necessário... Tudo isto porque ele está profundamente triste, desiludido, magoado, arrependido e sente que se o sistema não o castigou pelo que fez, esta foi a forma que arranjou de o fazer sozinho.

O Casey Affleck faz um trabalho impressionante, que lhe cabe na perfeição e merece, sem dúvida (pelo menos do que tenho visto até agora) o Oscar de Melhor Ator. Posso dizer precisamente a mesma coisa do seu "sobrinho", Lucas Hedges. Em contrapartida não percebi a nomeação da Michelle Williams - eu sei que pode parecer embirração, e provavelmente até é - mas ela não fez absolutamente nada de extraordinário. Mas mesmo nada. Acho que a Janelle Monáe conseguiu muito mais quer em Moonlight quer em Elementos Secretos. Ela sim, deveria estar naquela posição. Mas é apenas a minha opinião.

Bom, fico à espera da vossa opinião.

Jackie (7,1 IMDb)
O filme conta a vida de Jackie O Kennedy durante os 4 dias após o assassinato do seu marido, John F. Kennedy, então atual presidente dos Estados Unidos. Todos conhecemos a história, já todos vimos imagens ou mesmo vídeos do momento em que é baleado na cabeça e todos conhecemos a sua Primeira Dama, o ícone de estilo que perdura até aos nossos dias. O que é que este filme vem então acrescentar? Acrescenta a visão da viúva que, de repente, viu-se sem marido, sem presidente, sem casa, sem esperança, sem rumo, sem trabalho e com dois filhos pequenos para educar. Mostra-nos como a beleza e a inteligência não são dissociáveis e que a força vem de onde menos esperamos. Temos acesso aos preparativos do funeral e das estratégias do backstage. É interessante.

Não é, no entanto, o que esperava. Esperava mais, mais profundidade, mais exposição, mais descrição, mas o que nos mostram é bonito e vale a pena. Os cenários são muito semelhante aos reais, o guarda-roupa está incrivelmente semelhante, a caracterização de Jackie por Natalie Portman está digna de Oscar. Mesmo! Vamos lá ver se arrecada alguma estatueta este domingo.

Custe o que Custar (7,7 IMDb)
Não tinha grandes expectativas. Vi por dois motivos: estar nomeado para vários Oscars e o Chris Pine. Já sei que o segundo é motivo mais do que suficiente, mas têm que me dar um desconto que eu ando numa roda viva para tentar ver todos os filmes até domingo - e cheira-me que não vou conseguir.

Bom, sobre o Custe o que Custar devo dizer que tem uma história muito simples, muito breve e que podia ser contada em três linhas (não o vou fazer, porque iria ser um spoiler). Ao contrário da maioria dos filmes que tenho visto, aqui a essência está mesmo na narrativa e não nas entrelinhas ou no cenário. E também está - em grande parte - na relação destes dois irmãos que é tão bonita e tão genuína que só assim é que poderiam ter feito o que fizeram. Há boas interpretações aqui, há diálogos incríveis e há bons cenários, há referências históricas e críticas à sociedade bem fortes, há bons planos e enquadramentos. Até a banda sonora é boa. Não é um filme épico nem que me vá recordar dele para sempre e guardá-lo no meu coração, mas é um bom filme e deve ser visto pelo menos uma vez na vida.

Capitão Fantástico (7,9 IMDb)
Provavelmente o melhor filme que vi nos últimos tempos. Não a nível técnico - mas até podia, porque até nesse nível também está ótimo - mas devido à mensagem, à temática e à forma de como nos põe a refletir e a questionar todos os nossos "achamentos", as nossas "certezas absolutas", os certos e os errados.

É a história de uma família muito invulgar que vive praticamente isolada nas montanhas. Caçam e pescam para comer, fazem roupas com os próprios recursos naturais e não vão à escola dita comum. Mas são super inteligentes, informados, conscientes, críticos e altamente treinados para situações limite. Fazem escalada nas montanhas, sabem primeiros socorros, treinam como atletas olímpicos e lêem muitos - mesmo muitos - livros. Esta é a escola deles. E são felizes assim. Até que há um dia em que têm que ir ao funeral da mãe (que foi internada num hospital com uma doença mental e, entretanto, se suicidou) à civilização. Esse choque de culturas, de hábitos, de mentalidades e conceitos é tão rico, tão interessante e tão bonito... Principalmente quando ficam hospedados na casa da irmã do pai deles, que vive uma vida como a de todas nós. Tem dois filhos mais ou menos da idade dos irmãos mas são pessoas absolutamente diferentes. As cinco crianças são vistas quase como aberrações, o pai é visto como um inconsciente que não quer o melhor para os filhos - que vão à escola e comam comida comprada no supermercado. Enfim, há imensos paradoxos em análise no filme como quando estão à mesa e permitem que os dois miúdos joguem videojogos à mesa mas não permitem que ouçam palavrões - o que é mais prejudicial? Depois há tantas questões que este filme coloca em cima da mesa e que nos obriga a debater como a religião, o respeito pelo outro, a educação, o bom senso, a responsabilização das crianças ou a proteção, as explicações de todos os conceitos em qualquer idade (sim ou não? até que ponto? todos os conceitos?), a verdade, a honestidade, os ideais, a cultura... Um dos momentos bonitos foi quando o pai perguntou a uma das filhas, que estava a ler Lolita, o que achava do livro. Ela começa a descrevê-lo. O pai diz-lhe que isso é a descrição da história e que não quer saber isso, que já o tinha lido, queria saber qual era a sua opinião sobre o tema, o que estava a sentir,... E isso é tão mais interessante, quando refletimos sobre as coisas que estão à nossa frente, quando falamos pelas "nossas palavras" o que achamos e não nos limitamos ao que nos dão todos os dias através de jornais, revistas, facebook, televisão, blogues... É de sentido crítico que precisamos na sociedade.

Podia continuar a falar sobre Capitão Fantástico mas nunca iria conseguir descrevê-lo na realidade nem pôr em palavras aquilo que eu senti com o filme porque toca em variadíssimos conceitos que me são muito familiares, que me tocam profundamente e que eu concordo na totalidade. Talvez por isso que eu tenha gostado TANTO dele. Talvez por isso que tenha chorado como já não me lembrava de chorar num filme...

Têm que ver. Está bem? Prometem?

O Herói de Hacksaw Ridge (8,3 IMDb)
Pensei que fosse chorar que nem uma perdida. Não aconteceu. Realmente O Herói de Hacksaw Ridge é um grande filme mas tem mais esperança nele do que propriamente drama e sofrimento. Talvez por ter esta dose tão equilibrada que não me fez largar mais de meia dúzia de lágrimas tímidas, mas vários sorrisos e acenos de cabeça ao jeito de "hell yeah!".

Quando vi o trailer do filme (ainda em 2016) pensei que era um filmão, que tinha que ver o mais rápido possível. Depois comecei a ver que era mais comercial do que eu achava, via imensa gente a ir ao cinema e a falar-me dele, pessoas que nunca vão ao cinema... Perdi o interesse. Como quando adoro um vestido da Zara de paixão e depois vejo-o em 100 bloggers e em 1200 pessoas na rua e a peça acaba por se tornar demasiado comum e desinteressante. Pronto, foi isso que me aconteceu com este filme. Foi também por isso que só o vi ontem e porque estava nomeado para os Oscars e eu quero aviar o máximo possível.

O filme é incrível. A sua essência está na luta pelos ideais, pela consciência, pela coragem e pela motivação de fazer o bem sem olhar a quem - literalmente. E pela fé inabalável que é um dom só ao alcance de alguns. Aborda assuntos sociais atuais como o bullying ou a perda de identidade ao seguirmos o que todos seguem em vez de seguirmos aquilo que acreditamos, custe o que custar. A persistência, a confiança e o caráter são características fundamentais neste enredo, tal como o amor. O amor pela mulher, pela mãe, pelo país, por Deus, pela Humanidade no geral. Doss ensina-nos a não desistir não por orgulho e teimosia mas por uma vida de consciência tranquila. E isso é muito bonito. Mais bonito ainda é percebermos que esta história é verídica e que, no final do filme, temos a possibilidade de conhecer as pessoas reais por detrás das personagens... Uma lição de vida para todos os espectadores, crentes ou não.

E depois temos um filme de Mel Gibson, com planos incríveis, inovadores e sempre muito bem apanhados, os cenários tão perfeitos e realistas quanto é possível ser, os efeitos especiais incríveis, arrepiantes até. Há sempre aquela aura de mistério, de incerteza. E depois há graves falhas com os navios da marinha - no meio de um filme tão tecnicamente avançado, ver aqueles segundos são quase dolorosos. No final, o balanço é altamente positivo e aqui está um filme para vermos várias vezes ao longo da nossa vida.


Neste momento está a faltar-me, considerando só os principais, Lion (estou a preparar-me emocionalmente para ele, visto que me dizem sempre que vou chorar 3 dias seguidos), Animais Noturnos, Vedações, Loving, Uma Diva Fora de Tom (que vou deixar para o fim), A Lagosta e Mulheres do Século XX e todos os filmes de animação. Como podem ver, vai ser uma odisseia chegar a domingo com a lição estudada.

E vocês? Como anda isso?


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