segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

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Mais quatro filmes riscados da lista super-extensa dos Oscars de 2018. Entre eles, o meu favorito, talvez, do ano! Vamos a isso?

Eu, Tonya
7,7 IMDb
Antes de ver este filme dizia que o Oscar de Melhor Atriz ia limpinho para a Frances. Depois de ver a interpretação espetacular da Margot, vacilei. Se for ela a próxima dona da estatueta, ficará muito bem entregue.

Eu, Tonya conta-nos a história real de Tonya Harding, uma rapariga americana pobre, que vive no seio de uma família disfuncional, com um pai ausente e uma mãe abusadora e negligente. Tonya cresce sem auto-estima, sem saber como é amar e ser amada. É má estudante e o seu único talento especial é a patinagem no gelo. É nele que se concentra praticamente desde os quatro anos de idade, muitas vezes obrigada pela mãe. Daí às grandes competições nacionais foi um instante - de facto, o seu talento era enorme - e depois, os Olímpicos. Harding casou muito jovem com um homem também abusador e violento - tal como a sua mãe - para fugir da vida que tinha desde pequena. Não mudou para melhor. Entre fins da relação e recomeços, Tonya continuava firme na patinagem, mas nunca foi considerada como uma das melhores - apesar de aplicar todos os movimentos na perfeição - porque a sua figura pouco esguia e um estilo mais rebelde não encaixavam no perfil que os júris pretendiam para uma patinadora de alta competição. Também no meio onde era a melhor, continuava a ser uma persona non grata. Tudo começa a descambar quando o seu marido - idiota e pouco dado à inteligência - decide dar um empurrãozinho e, juntamente com o seu (ainda mais idiota) melhor amigo, lesionam a concorrente direta de Tonya. As investigações decorreram e determinaram que Tonya beneficiou deste acontecimento - apesar de defender que não tinha conhecimento de nada - e, por isso, foi expulsa definitivamente da patinagem e proibida de participar em qualquer competição dessa modalidade. Este caso foi altamente polémico nos anos 90. Estamos a falar dos Jogos Olímpicos e de duas das melhores atletas de patinagem no gelo.

O filme está contado quase como se fosse um documentário, baseado nas entrevistas feitas às personagens principais (Tonya, mãe, ex-marido e o melhor amigo deste). A montagem está muito bem feita e a informação é muito clara e concisa - gosto quando não me perco em informações. O filme está mesmo muito bom, cheio de humor negro e de drama, também. Mas a grande ovação vai para a incrível Margot que fez um PAPELÃO! Desde a caracterização às competências atléticas, a miúda acertou em cheio, e digo-o porque no final de ver o filme fui ao YouTube comparar e, de facto, foram muito fiéis à realidade.

Gostei muito de Eu, Tonya e senti pena dela. Segundo o que é descrito no filme, ela era uma menina inocente, farta de sofrer na vida, que nunca soube o que era o amor próprio nem de outra pessoa. A patinagem era o seu escape e o seu único talento. Tirar-lhe isso foi quase como assinarem-lhe uma sentença de invalidez vitalícia. Sem isso, ela era apenas uma miúda sem dinheiro, sem estudos e sem nenhuma competência ou aptidão especial. Percebi também que temos evoluído bastante desde os anos 90 - apesar de ainda haver MUITO para fazer - e que o papel da mulher na sociedade e em grupos mais restritos já não é tão homogéneo. Vamos começando a aceitar a diversidade que existe e, só assim, é que conseguimos evoluir. Acho que todos nós perdemos muito com a saída de Tonya da modalidade. Acho que ela poderia ter feito coisas extraordinárias. Mas não se preocupem, ela acabou por dar a volta ;)

Chama-me pelo teu nome
8,3 IMDb
Dos melhores filmes que já vi. Acho que vai ser o meu Capitão Fantástico de 2018.

Aqui vemos a história de um intenso e verdadeiro amor de verão. O jovem Elio vai com os seus pais passar o verão à casa de férias algures no norte de Itália. O seu pai é professor e arqueólogo que acolhe um estudante durante as férias para o ajudar nas investigações. Oliver chegou cheio de confiança e com uma certa arrogância. Um americano típico. Não agradou Elio logo no início. À medida que o tempo vai passando os dois vão sendo obrigados a aproximarem-se um do outro até não conseguirem mais separar-se. E dá-se assim uma das histórias de amor mais bonitas que vi no cinema.

Até à primeira meia hora (45 minutos, vá) de filme não consegui compreender muito bem se aquilo ia ser um filmão do caraças ou se ia descambar para o maior flop dos últimos tempos, disfarçado de filme independente, filosófico e pseudo-coiso. Fiquei ali meio na desconfia para descobrir para qual dos lados se vai virar. E não podia virar-se de melhor maneira... Aqueles minutos finais dão toda uma nova perspetiva sobre tudo o que se passou ao longo daquelas 2 horas repletas de imagens de uma coisa a que eu chamo paraíso (tenho uma paixão por paisagens italianas assim) e uma série de experiências pelo caminho.

Call me by your name podia descambar rapidamente para o brejeiro e ordinário. Em vez de tudo isso, é genuíno e muito cru mas ainda assim poético e utópico. Não há cá filosofias nem planos estrategicamente trabalhados para explorar os momentos mais intensos. Não. É o ser humano tal e qual como ele é. São as experiências e a busca interior e as dúvidas sobre a descoberta da sexualidade duras e cruas, ali expostas no ecrã. Tal e qual como nos acontece na vida comum. Sem floreados. Mas a vida humana, e particularmente as relações pessoais, têm qualquer coisa de mágico, não é? Têm ali umas pitadinhas de pequenos milagres diários que dão toda uma nova camada às nossas experiências, vivências e perspetivas. E é nisso que o filme é poético: tem uma magia permanente de nos mostrar a vida e os relacionamentos como são e deixá-los simplesmente ser. Acontecer. Sem medos ou receios do fim anunciado.

Este filme fez-me parar para pensar: quanto tempo me permiti ceder às minhas emoções? quanto tempo me permiti a sentir-me triste, magoada, frustrada e aceitar isso como um processo duro mas necessário para a transição? Que mania a minha de me mostrar sempre muito superior aos sentimentos e de achar que nada realmente me afeta quanto tudo, na verdade, me dói, quase de forma física. Quando vi o filme chorei. Chorei muito. Porque eu gostava que alguém me tivesse dito o que disseram ao Elio. E gostava de ter tido a coragem que ele teve de abraçar aquela dor horrível, ter tempo e predisposição para ficar ali a sofrer e, só depois, seguir em frente...

Em Call me by your name sabemos como tudo vai terminar - mais coisa menos coisa - mas somos levados pela intensidade daquele amor de verão, genuíno, puro, inocente e, tal como as personagens, quase que nos esquecemos que o fim está próximo e a vida tem que voltar a ser feita. Longe do paraíso. Fora das temperaturas quentes de verão onde se usa o mínimo de roupa possível e não há problema em andar descalço todo o dia e dormir de noite com a janela aberta. Levamos aquele murro no estômago, tal como eles levam com a perceção do quão efémera foi aquela relação linda. É tempo de seguir em frente. É tempo de "suck it up and embrace the pain".

Queria escrever-vos um texto mais composto e profissional sobre este filme. Mas ainda estou a digerir as emoções. Aqui está um trabalho fenomenal a nível de fotografia, cenários, produção e, sobretudo, de realização. É um filme para vermos de longe a longe, para nos fazer lembrar de algumas coisas que precisamos que sejam relembradas com alguma frequência - temos tendência para nos esquecermos do mais importante - e para voltarmos a acreditar. Oiçam também a banda sonora. Está em loop por aqui há uns bons dias.

O Armie Hammer já me tinha conquistado num filme improvável - Os Agentes da U.N.C.L.E. - e cada vez me surpreende mais com as suas interpretações. Mas não foi nomeado. Estou a torcer pelo pequeno Elio (Timotheé Chalamet) para que leve o Oscar de Melhor Ator, que bem merece - parece-me improvável, principalmente por concorrer com Daniel Day-Lewis e Gary Oldman, mas ainda assim, há que ter esperança -, que a canção Mistery of Love leve o galardão para Melhor Canção Original (está em loop) e que Call me by your name seja o Moonligh de 2018. Estou a torcer muito.

O Quadrado
7,6 IMDb
Vi este filme no grande ecrã. Ia sem grande expectativa até porque não fui ler nada sobre o filme, nem sobre os atores e nem prestei atenção ao trailer. Não gosto de saber muito antes. Gosto de ser surpreendida e de interpretar as coisas à minha maneira, sem me guiar por críticas ou opiniões de outros. Gosto de ir ao cinema e ser uma tela em branco.

No caso de O Quadrado (nomeado para Melhor Filme Estrangeiro - sueco) foi amor à primeira vista. Mesmo. Foi um prazer ver este filme no grande ecrã e estou a torcer para que vença o seu galardão. Mas vamos lá por partes.

Christian é o curador de um Museu de Arte Contemporânea que se prepara para inaugurar uma promissora exposição chamada "O Quadrado". A premissa dessa instalação é fabulosa - não vou contar, têm que ver - mas as coisas correm mal na comunicação desta exposição e o Museu e o seu curador vêem-se em apuros. Christian é um bom cidadão, consciente das suas ações, responsável, amável, generoso e bondoso. Pai extremoso de duas crianças, divorciado e rico.

O filme tem vários ângulos para explorar: 
a comunicação - até onde podemos ir? o que é a liberdade de expressão e qual o seu limite? há limite para a liberdade de expressão? 
a arte - o que é a arte? a arte deve incomodar? se for demasiado fraturante é considerada necessária/serviço público ou um atentando? a arte deve ser mais do que bela? uma obra de arte vale por si só ou vale porque está dentro de um museu, que lhe confere uma aura artística e de aceitação?  
o altruismo - o que é ser altruista? fazemos o bem porque somos altruístas ou porque é politicamente correto? somos sempre altruístas ou somos quando nos convém ser? será que não ganhamos nada em sermos altruístas? e quando há situações em que essa característica é essencial, será que temos a lucidez para o ser?
herói/vilão - somos só um? somos uma mistura dos dois? vamos intercalando de acordo com a situação, o contexto e o nosso estado de espírito?

Haveria muito mais a refletir, até porque este filme é um ensaio sociológico da nossa comunidade, da nossa sociedade politicamente correta, cheia de falsos valores, que aponta o dedo com a mesma facilidade que dita palavras elogiosas. Pessoas que frequentam determinado espaço e convivem com determinadas pessoas porque lhes dá uma aura mais intelectual, superior... Mas interiormente há um vazio. E a arte, quando todos dizem que deve ser fraturante, ninguém a aceita quando o é. Apontam o dedo e dizem que foi longe demais. Adoro filmes que mostrem diferentes perspetivas de uma situação. Que mostrem outras realidades, outros pensamentos e outras formas de estar. Gosto particularmente quando não há um herói nem um vilão. Gosto quando o ser humano é o centro de tudo, no seu melhor e no seu pior.

O Quadrado deveria ser OBRIGATÓRIO.

A Hora Mais Negra
7,4 IMDb
Não tenho muito para dizer sobre A Hora Mais Negra para além da brilhante interpretação e caracterização de Gary Oldman. Está tão, mas tão boa que não consegui identificar o ator. Só nas minhas pesquisas é que percebi que era o agente amigo do Batman - grande parte das minhas referências no cinema baseiam-se em filmes de super-heróis, sorry about that! -, sabiam disso? Eu não sabia e fui apanhada de surpresa e, ao mesmo tempo, fez-me admirar muito mais o seu trabalho.

Não posso dizer que é um filme desinteressante. Isso não o é. Aliás, nada do que é contado sobre a II Guerra Mundial é desinteressante ou com ausência de conteúdo. Mas aqui o que se destaca, sem sombra de dúvidas, é a impressionante interpretação de Gary Oldman de uma das personalidades britânicas mais famosas de sempre: Winston Churchill. Todo o trabalho maravilhoso do ator, aliado ao fantástico poder da caracterização, fazem-nos esquecer que há uma pessoa debaixo daquele manto todo de profissionalismo. Vale a pena por isso. E vale a pena dar-lhe um Oscar - mas não vou falar muito porque ainda não vi todos os trabalhos dos outros nomeados (faltam-me 2: Denzel Washington e Daniel Day-Lewis). Apesar de tudo, continuo a torcer pelo Timotheé, é importante referir.

Quanto ao resto do filme, achei-o interessante mas nada épico. Dentro do género, o Dunkirk dá-lhe 10 a 0. Ora ainda bem que estamos a falar de Dunkirk, porque é precisamente sobre este episódio da História da II Guerra Mundial que este Darkest Hour se debruça. Neste filme vemos a história contada do outro lado da margem, as decisões políticas, os jogos de poder, as ponderações, tudo. Em Dunkirk vemos os soldados, os inimigos e a incrível resiliência do ser humano. É giro ver os dois. Como em tudo, há sempre dois lados. Mas se tiverem mesmo que escolher um ou outro, vejam Dunkirk. Sem dúvida.


Sticky&Raw
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