A minha cadela é a mais carismática do mundo animal, mas agora está doente...

Vocês não sabem, mas eu tenho uma pequena leoa a partilhar casa comigo. Ela ladra e quem não a conhecer pensa mesmo que vai ferrar - nunca ferrou a ninguém e tem medo de gatos, mas vai a correr atrás deles, no entanto se eles se virarem e a ameaçarem, nem sabe onde se há-de meter. É a chamada cagufa - mas na verdade já estive mais do que muitas vezes a pensar por uma placa bem visível à entrada a dizer: "Cuidado com o cão. Não o pisem!" visto que a minha pequena leoa, de seu nome Princesa é uma bolinha de pelo de orelhas arrebitadas como se fossem duas antenas. Ela é que me conta as novidades todas daqui da minha rua. Adora pôr-se a ouvir as conversas das vizinhas com o focinho enfiado debaixo do portão e de correr, ladrar, rebolar no jardim, saltar, fazer pequenas maratonas à volta da casa e se o tempo estiver favorável, adora deitar-se no cimento ao solinho de papo para o ar sem que ninguém lhe azucrine a cabecinha mais linda da zona. Não pede óculos de sol nem toalha de praia, só pede que não a perturbem enquanto se banha de sol. Diz ela que são os seus momentos de relaxe e eu sei que se não a ouvir a ladrar nem a correr de um lado para o outro feita doudinha, estará de certezinha a tostar ao sol ou então debaixo da mesa da cozinha - à sombrinha e em cima da tijoleira fresquinha - a refrescar-se. Vai intercalando. Pouco esperta ela... Se alguém pegar nas chaves acabou-se o sossego. Salta, dá piruetas absolutamente awesome e começa a ganir e a abanar a cauda cheia de folia só por saber que vai para o jardim. Mas hoje não. Manteve-se sossegadita, longe dos histerismos habituais, e saiu bem calminha em direcção ao jardim. Achei muito estranho mas não liguei muito. Como ainda era cedo, podia não estar com vontade. Depois do almoço, estava a limpar a minha casa de banho e deixei a porta aberta para ela ir estatelar-se ao sol, mas a criatura não se mexeu da sua poltrona e ainda por cima pôs aqueles olhinhos de cachorrinho abandonado que faz quando não lhe dou o que ela quer ou quando não a deixo vir dormir no meu quarto. Achei estranho duas vezes. Sentei-me ao lado dela a dar-lhe miminho para tentar perceber se aquilo era para chamar a minha atenção ou ela estava mesmo choca. Mas nada a demoveu. Mais tarde quando voltei para ver como estava, tinha o tapete cheio de vomitado e ela com os olhinhos a pedir desculpa pelo que tinha feito! Fui logo à beira dela dar-lhe miminho e dizer-lhe que não fazia mal. Pus o tapete para lavar e lavei o chão com água e detergente com cheirinho bom. Agora ao jantar, para me pôr mais preocupada, não se pôs a saltar para as pernas de ninguém a pedir comida, nada! Manteve-se deitada no chão, debaixo da mesa, no silêncio. Agora nem sequer veio para a carpete da sala! Está na poltrona dela toda murrona. Ora bem, pensei que talvez um chazinho de cidreira lhe fizesse bem (até pus um pacotinho de açúcar para saber melhor e tudo) mas a criatura cheirou, cheirou, cheirou e nada. Nem lhe tocou! Vou ser persistente e pôr o cházinho à beira dela durante a noite, pode ser que a convença.

Neste momento estou a escrever na pontinha da cadeira porque o texugo está a dormir no que resta do espaço. Já ressona. É bom, não é?

A Princesa no choco

A Princesa a ocupar-me a cadeira. Só estou a ocupar aquele espacinho em baixo à esquerda. É verdade. Apodera-se de tudo. Vai-se a ver e ainda me pede para dormir cá.

P.S. A cadeira ainda é a do quarto antigo, mas mal veja algo perfeito para cá morar, vem de imediato. Até lá, é o que temos... A Princesa não se queixa nada!