segunda-feira, 15 de maio de 2017

amar pelos dois

Não vos sei descrever a alegria que tive por ver aquele miúdo, com aquela música, a ganhar a Eurovisão e a pôr a Europa a olhar para Portugal. Não vos sei dizer o orgulho na mana Sobral, de quem eu já sou fã há bastante tempo... Enfim, acho mesmo que quem é bom, mais cedo ou mais tarde, vai acabar por ganhar o mérito que lhe é devido.

PARABÉNS MANOS SOBRAL!


Mas sobre isso, já toda a gente falou. Já todos deixaram uma foto, uma frase acompanhada de um hashtag ou uma passagem do momento no instastories. Não há muito mais para acrescentar. Por isso quero colocar aqui uma questão a todos e que, se fosse jornalista, era menina para colocá-la aos manos:

Conseguem amar por dois?

Eu não consigo. Já tentei mas não deu resultado. Não sei se fui eu que não soube amar direito, se nunca amei de todo ou se, definitivamente, isso está para além das capacidades de um comum mortal. Amar por dois parece-me sempre aquela coisa de tapar o sol com a peneira, de enfiar a cabeça na areia ou de remar para lados opostos. É adiar o inevitável.

Rezar para que a outra pessoa regresse, que volte a amar parece-me um pouco de insegurança e de carência, tudo misturado. É perigoso viver neste ponto. E sim, falo por experiência própria. Talvez por isso que o diga: o destino das personagens desta canção está traçado. As pessoas não mudam ao ponto de se tornarem em pessoas diferentes. Por isso, também me parece difícil que se voltem a amar. Os defeitos estão lá, os hábitos e comportamentos também. É chover no molhado.

Quando um coração já não sente paixão e, pior, já não estiver disposto a arriscar, mesmo que possa vir a sofrer, está tudo lixado. O amor acaba quando uma das partes (ou ambas) deixam de querer saber.

E o "sem fazer planos do que virá depois" é viver na insegurança e na constante pressão de continuar a cativar o outro, de continuar a dar, a cada dia, motivos para se manterem juntos... É extenuante, é uma luta inglória.

Penso que é preciso perceber quando já demos tudo. Se esta canção tivesse um segundo volume, talvez descrevesse a separação inevitável, que todos viram menos aqueles dois. Sad but so true.

O amor deve ser simples, fluido, correspondido e sem complicações. Caso contrário são só duas pessoas juntas que gostam uma da outra (às vezes) e que se vão aturando. Tem que haver fogo-de-artífício! Tem mesmo! Caso contrário, não vale o tempo "perdido".

Bom, mas eu não estou a dizer que esta letra não tem sentido nenhum. Muito pelo contrário. Esta letra é incrível, sabem porquê? Porque todos nós já passamos por uma fase destas. Todos nós já estivemos numa relação em que já sabíamos - bem lá no fundo - que não havia futuro, mas demos tudo de nós, o que tínhamos e o que não tínhamos para que conseguíssemos mudar-lhe o rumo. Claro que 99,9% das vezes, isso não aconteceu.

Vencemos pela interpretação do Salvador, pela simplicidade, pela melodia, pela música de filme da Disney, que nos entra no coração sem nos impôr nada. Mas o que eu acho na realidade é que vencemos porque cada um dos que ouviram a canção pensaram "Porra, isto é uma indireta para mim?", "Mas afinal eu não sou o único a pensar assim?". O Salvador e a Luísa perceberam o insight e  entregaram uma boa canção ao público.

Eu já tentei amar por dois. Não resultou. Espero nunca ter que o fazer de novo e, acima de tudo, espero nunca achar que o consigo fazer. Nessa altura, prefiro ter o discernimento de deixar ir, sem ressentimentos, porque "eu sei que não se ama sozinho".



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