sexta-feira, 16 de março de 2018

let it be


Já sabem que os últimos tempos não têm sido fáceis. O último meio ano veio para arrasar comigo, apesar de persistir em ficar de pé. Houve muitos contratempos, muitos momentos de coração nas mãos, muitos sustos e muitas tarefas que tive que executar que nunca esperei ter que as fazer - não aos 25 anos, pelo menos. 

Mas fiz e faria de novo.

Fiz porque a pessoa que estava ao meu cuidado precisava que fizessem por ela. Porque ela não podia fazer a si própria. E não há nada mais triste do que essa dependência. Durante 6 meses quis dar-lhe o melhor que tinha (e que, na maioria das vezes, não tinha). Quis fazer-lhe tudo para que esta fase fosse o menos dolorosa possível. E assim foi. Mas ao longo deste tempo fui também levando facadinhas nas costas que doíam muito, mas fui sempre dizendo para mim própria "esquece, é da doença", sabendo muito bem que não era. Fui ficando. Fui ouvindo. Fui calando. Por respeito, por pena, por consideração. Desde o inicio que o meu único pensamento neste processo foi

Se fosse eu naquele lugar, o que queria que me fizessem?

E foi por isso que aguentei 6 meses a trincar a língua para não responder. A tapar o sol com a peneira e a negar aquilo que eu sempre soube. Há uns tempos para cá percebi que começava a ser necessário mudar a perspetiva da história. Então fiz a pergunta ao contrário

Se fosse eu naquele lugar, faria aquelas coisas?

A resposta foi que não, não faria. Sei que sou uma pessoa aparentemente fria, que não mostra os sentimentos, mas não sou de ferro. Nem mereço ser tratada como tenho sido tratada depois de entregar toda a minha disponibilidade às mãos daquela pessoa. Nem depois de entrar todos os dias naquela casa feita palhaça a fazer o pessoal rir, para não sentirem tanto o peso daquela responsabilidade enorme. Não mereço eu nem ninguém que também se sacrifica tanto como eu para dar o maior conforto e tratamento a essa pessoa.

Ao longo destes 6 meses percebi - pela primeira vez, acho - o que é uma pessoa egoísta e orgulhosa. Mas fiquei especialmente incomodada com o egoísmo, confesso. Quem põe o seu bem-estar à frente de tudo e de todos, sempre, sem exceção, e sem um pingo de arrependimento ou tristeza nisso, bom... Custa a digerir. Porque foi uma vida a ser assim. Uma vida inteira. As pessoas não mudam, de facto. Ou a maioria das pessoas, pelo menos. Também aprendi isso.

A facadinha final foi esta semana. Fez-me ter atitudes que não correspondem à minha pessoa, à minha forma de estar na vida. Não me arrependo mas também sei que se tivesse "explodido" mais cedo, não saía tão magoada da situação. Simplesmente vou começar a defender-me. Vou continuar a fazer-lhe tudo o que seja necessário mas vou defender-me mais.

Claro que quem não está na minha posição ou quem não conhecer a situação vai dizer que eu sou uma pessoa horrível. Vivo bem com isso porque vivo bem com a minha consciência. E como eu costumo dizer, "pimenta no cu dos outros para mim é refresco". Agora, em vez de querer tentar ajudar, encontrar soluções, mexer-me para aqui e para ali, perguntar a este ou àquele qual é a sua perspetiva para encontrar uma solução justa para todos, eu vou 

deixar acontecer.

Não me vou chatear mais com isto. Não vou querer saber. Vou simplesmente fazer a minha obrigação nos dias em que me compete e vou deixar de ficar absorvida por este problema nos restantes dias. Vou entregar às mãos dos outros os problemas por resolver, em vez de tentar resolvê-los sempre. Vou deixar de abdicar de seja o que for e vou deixar que outras pessoas - bem intencionadas ou não - que acham que conseguem fazer mais e melhor do que nós, fiquem com as responsabilidades que quiseram assumir.

Por isso, espero que depois de uns dias de alívio, a respirar fundo e a ter tempo para organizar as minhas coisas, consiga voltar ao blog com maior regularidade. E talvez consiga pegar nas outras 100 coisas que deixei pendentes em outubro do ano passado. Talvez marque férias. Talvez consiga ir ao ginásio 3 vezes por semana e talvez ainda dê para voltar a ir tomar café com amigos, se é que ainda tenho algum que se lembre de mim. Quem sabe se não faço a minha festa de 25 anos que ficou por celebrar em janeiro?

Há males que vêm por bem

E às vezes é preciso partirem-nos o coração para percebermos que precisamos de olhar numa nova perspetiva, valorizar quem nos valoriza, apoiar quem está lá para nós e dar a quem nos trata com orgulho, maldade e arrogância o tratamento que merecem: algum desprezo e, ainda assim, uma dose de bondade, para que percebam que apesar de serem pessoas más, estão rodeadas de pessoas boas de verdade, que não retribuem na mesma moeda.


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