sábado, 18 de janeiro de 2014

Esses depravados dos homossexuais, pá! Primeiro quiseram casar, agora querem ter filhos... Tsssh

Não vou falar do que se está a passar neste momento em Portugal por dois motivos. O primeiro é que acho tão vergonhoso, que nem me consigo pronunciar. O segundo é que há outros blogs mais competentes para falar disso. Aqui apenas vou dar a minha opinião sincera. A opinião que sempre digo quando me perguntam. Não é baseada em nenhum estudo científico nem me quero armar em Quintino Aires. É APENAS a MINHA OPINIÃO. Mais nada. Não têm que gostar ou concordar e só lê quem quer.

Primeiro de tudo: eu não tenho absolutamente nada contra os homossexuais. Aliás, porque é que haveria de ter? O que é que eles têm de mal para que eu tivesse alguma coisa contra eles? Há povo por aí que me incomoda muito mais (os do swaaaag e o povo que entra na Casa dos Segredos, por exemplo).

Não me importo de ver um casal de homossexuais. Não me importo, juro! O que não gosto é de os ver a lamber-se todos em público. Mas nem os homo nem os hetero. Para mim isso resume-se a uma frase: arranjem um quarto e o problema fica resolvido.

Para vos mostrar o quanto eu não ligo mesmo a isso foi quando me disseram que duas pessoas que conheço há dois anos são gays. Eu perguntei "A sério? Olha que bom para eles..." e ficaram a olhar para mim como se eu fosse um ET ou algo parecido. "Nunca tinhas percebido isso?!" perguntaram-me. Ó pá, eles não escondem mas para mim aquilo nunca foi nada com que perdesse muito tempo a pensar. É a mesma coisa que alguém me dizer que fulaninha de tal tem umas orelhas enormes. Pronto, olha, é uma situação que reparo mas que no segundo a seguir já não ligo e dois segundos depois já nem me lembro. Mas quando fui confrontada pelos meus amigos com aquela afirmação é que eu percebi: ok, eu convivo com duas pessoas que são homossexuais (pelo menos uma é com certeza) há dois anos e liguei tanto a isso como as minhas amigas gostarem de homens. Normal. Fiquei contente.

Pronto, parte da minha posição já perceberam. Nada contra desde que haja respeito como em qualquer casal seja ele homo ou heterossexual. Entendidos?

Quando se tornou permitido esses casais casarem em Portugal foi uma grande alegria para mim. Parece que finalmente eu estava a viver no país certo, num país culto, moderno, com uma mentalidade aberta, sem dogmatismos nem palas nos olhos. Era neste mesmo país que eu queria viver. Fiquei tão feliz por todos aqueles que poderiam a partir daquele dia realizar o sonho de casar! Sempre me questionei: porque é que eu me podia casar e esses casais não? Eu pago mais impostos? Tenho mais responsabilidades sociais? Desconto mais para o Estado? Ocupo mais espaço? Então porque me estavam a presentear com essa oportunidade e aos outros casais não?

Não me podem dizer que isto é uma questão religiosa. Se é, está errada. Que eu saiba o Estado é laico e todo o cidadão têm liberdade de escolha. Então que motivo davam para proibirem o casamento gay?
Felizmente nisso já saímos da idade da pedra. Felizmente!

Quanto à adoção, acredito que haja outras condicionantes (para as crianças, claro, não é para as mentalidades tacanhas) que não apenas as religiosas mas nós estamos no século XXI pessoal! Então eu passo a explicar a minha posição:

1) O principal argumento que me dão é que as crianças vão ser gozadas pelas outras crianças na escola
É certo que as crianças quando querem conseguem ser pequenos demoniozinhos, é verdade. Mas isto resolve-se de duas maneiras: a) os pais têm que educar os filhos para a igualdade, para a tolerância, para aceitarem aquelas pessoas que são diferentes de nós. O que distingue essas pessoas que têm um gosto por companheiros diferente do nosso e aquelas pessoas que preferem chocolate preto em vez do chocolate de leite? Não vai tudo dar ao mesmo? Não são felizes da mesma maneira? Então onde está o problema? Se as crianças forem ensinadas a respeitar o outro, não há nada a recear. O problema não são elas, que coitadinhas, só repetem o que aprendem em casa. O problema é a mentalidade dos paizinhos que têm lá em casa. Uma criança sabe lá o que é um homossexual! Nenhuma criança nasce com preconceito. Nenhuma criança nasce racista. O que aprende em casa (e não só) é que o vai moldando. Pais deste país, metam isto na vossa cabecinha: o vosso filho é o vosso reflexo.
b) A outra solução é o tempo e o hábito. Antigamente, pelo que me contam, ser filho de pais divorciados era pior do que ter varicela. Ninguém se chegava perto, não fosse contagiar. Por vezes até pediam segredo, como se fosse possível pedir uma coisa dessas a uma criança. Eram discriminadas pelos colegas e pelos adultos. Os pais sofriam represálias de todo o lado da sociedade. Mas com o tempo e com o hábito, quem é que agora liga ao amigo ser filho de pais divorciados? Ninguém quer saber! Ninguém se lembra disso no dia a dia... É uma coisa tão normal como usar calças de ganga. Verdade ou mentira? Quantos amigos temos nessa situação? Eu tenho pelo menos uns 8. A sociedade aceitou essa realidade. Isso prova que é capaz de aceitar uma nova realidade com o mesmo naturalismo. Basta dar tempo.

2) Depois também dizem que as crianças precisam sempre de uma referência feminina e masculina para desenvolverem
Sim, e então os filhos de pais divorciados que vivem só com a mãe e às vezes com a avó? Não tem apenas duas referências femininas? Ou quando um deles morre, o que acontece? Não me venham com tretas porque se a criança for bem acompanhada, se andar, por exemplo, num infantário onde tem a oportunidade de socializar todo o dia, se tiver pais/avós/tutores seja lá quem for que cuide dela com muito amor, carinho e dedicação, não vejo onde possa haver um défice na capacidade cognitiva da criança. Não me atirem areia para os olhos que só não vê quem não quer. Mas isso exige outros cuidados, outra atenção, claro que sim. Não digo o contrário. Mas e aquelas crianças que vivem em lares disfuncionais, com um pai e uma mãe, tal como manda a tradição, e têm problemas psicológicos tão mais profundos... O que me têm a dizer sobre isso? Nunca vi nenhum tribunal a tirar uma criança a uma mãe que viva, por exemplo com a avó só porque ela só tem duas referências femininas e precise de uma masculina. Vocês já?

3) Também há quem me pergunte: Eu queria ver essa filosofia toda se o teu irmão ou um dia o teu filho te disser que é gay.
Honestamente, preferia que não fosse por um motivo: não queria que fosse discriminado. Mas iria apoiar. O que é que eu podia fazer? Bater? Pôr de castigo? Mandar um padre exorcizá-lo? Claro que não! Acho de coração que o que me iria preocupar seria a sociedade má e tacanha, só isso. De resto, só queria que fosse feliz. Mais nada.

4) A mais hilariante é dizerem que se crianças forem adotadas por um casal gay também vão ser homossexuais no futuro.
Claro que sim. Aliás, os pais dessa criança também eram gays e os avós, e os bisavós e por aí fora. Os filhos de pais separados também se vão divorciar. É que isto é tipo a peste! Uma calamidade. Os filhos dos pais que se conheceram na net também vão conhecer os seus parceiros na net e filhos de uma mãe que usa um vestido cor de rosa todas as primeiras terças feiras de cada mês também vai usar um vestido cor de rosa todas as primeiras terças feiras de cada mês. É pura lógica. Estão a acompanhar-me?

Mas vamos a questões concretas:
É preferível uma criança estar num lar de acolhimento ou aos cuidados de um casal que se ama, estável, tranquilo e que quer muito ter um filho?
É preferível um casal "normal" perante os olhos da sociedade adotar uma criança e não lhe ligar nenhuma, não querer saber do desenvolvimento dela, ou é preferível ser adotada por esses monstros que são os casais de homossexuais que têm amor a rodos para lhes dar, um lar saudável, possibilidades para lhe garantir uma boa vida, com uma boa educação?
Nunca me canso de dar o exemplo do Eduardo Beauté e do Luís Borges. Tenho um carinho por esse casal que nem consigo explicar. Eles são uns heróis. Fazer o que fizeram num país como este não é para todos. É preciso ser muito "homem" para isso! E eles são dois grandes homens. Quem me dera que houvesse mais casos destes. Talvez os do poder - cof cof cof - lhes pusessem a vista em cima.

Querem um motivo prático para que esta lei seja aceite?
Todos sabemos da existência de famílias homoparentais. Famílias em que apenas um é oficialmente responsável pela criança mas o seu companheiro vive e convive com ela e são uma família em todos os sentidos menos nos papeis e aos olhos do Estado. Se o responsável pela criança falecer sabem o que lhe vai acontecer? Não fica com a família, com o outro pai ou com a outra mãe. Vai para uma lar de acolhimento, para uma instituição qualquer mesmo tendo família. O Estado é que não vê isso! Isso é justo para a criança? É isso a que chamam o superior interesse da criança?

Defendo que num processo de adoção sejam tomadas todas as medidas de lei, sejam analisados todos os pontos, quer seja um casal homo ou hetero. Mas pelo menos vamos dar uma oportunidade a quem quer ser pai/mãe!

Vamos lá dar um passo em frente? Vamo-nos deixar de mariquices e de "não-me-toques-que-me-desafinas"? Vamos começar a ser homenzinhos e mulherzinhas do século XXI que pensam e que ponderam e não têm a visão turva por preconceitos e dogmazinhos ridículos? Seguem a religião? Mas usam o preservativo e/ou a pílula, não usam? Ai que sacaninhas... Vamos lá ser melhores uns para os outros e fazer deste país um bocadinho melhor. Já que não temos dinheiro ao menos que tenhamos respeito uns pelos outros.



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2 comentários:

Unknown disse...

Opinião inteligente. Concordo com todos os pontos que salientaste. Sim, as opiniões divergem neste e noutros mais variados assuntos devido ao preconceito que a sociedade impõe. Mas a sociedade não é mais do que o conjunto de todos os indivíduos, de todos nós; como tal, cabe a cada um de nós contribuir com alguma coisa bondosa e evolucionista de modo a tornar as coisas melhores. O grande problema é a falta de informação das pessoas que começam logo por julgar,formular opiniões e juízos de valor quando muitas vezes nem sabem o conteúdo de toda a matéria. Acredito mesmo que muitas pessoas não saibam sequer ao que se referem os termos co-adopção por casais homossexuais. Por isso, acredito que antes de julgarem, se devem informar. E claro, respeitando todas as opiniões acima de tudo...

Sticky and Raw disse...

Obrigada pelo teu comentário Thelma :)
Também concordo contigo quando dizes que muita gente tem preconceito devido ao desconhecimento. Tens razão. Infelizmente ainda há muita gente pouco informada, não só em Portugal como em todo o mundo, até naqueles países muito desenvolvidos!
O mais importante nesta questão é o respeito! Uns pelos outros, qualquer que seja a orientação sexual.
Um beijinho :)