segunda-feira, 28 de maio de 2018

haters gonna hate


Este texto é um desabafo.

Não sei se já repararam - é praticamente impossível que não o tenham feito -, mas as redes sociais andam infestadas - sim, infestadas, tipo pragas! - de haters, trolls e gentinha que se acha muito superior a tudo, e pior, que acha que tem imensa graça. Abrimos o facebook - habitat natural destas espécies - e é um rol de comentários de ódio e sarcasmo sobre os mais diferentes assuntos - que isto é gente que percebe de tudo e comenta tudo.

Quando uma pessoa normal vê uma notícia sobre as unhas da princesa pode fazer uma de duas coisas: 1) ignorar totalmente aquela publicação, opção que eu aconselho vivamente; 2) abrir a notícia, ler, compreender e seguir com a vidinha adiante. Mas um hater não consegue manter nenhum destes comportamentos. Um hater vai comentar com uma receita qualquer - já não há pachorra para essa "piada" - só para dizer que é demasiado culto para ter interesse numa "notícia" sobre as unhas da princesa. Não ignora, que é lá isso!? Não! Vai à luta e chama nomes, destila aquele odiozinho acumulado na espinha, comenta de forma sarcástica e, no final, assolado pela curiosidade, mas no maior dos segredos, clica na notícia e lê tudo sobre as unhas da princesa.

Eu não defendo "notícias" dessas. Aliás, tenho uma opinião muito formada em relação a esse assunto, mas dava um outro post e não quero entrar por aí. Não tenho é paciência para estes trolls na internet que se acham super engraçados e superiores. Na verdade, imagino que sejam pessoas muito introvertidas, que nunca conseguem ser ouvidas na multidão, que não tenham nada de relevante para dizer ou fazer na vida e encontram na caixa de comentários um símbolo de poder, ainda que falso. No fundo, a grande maioria dos haters são uns choninhas na vida real.

Mas há um tipo de hater pior - verdade, existe! - que é aquele que acha que sabe. Esse faz-me revirar os olhos 10392 vezes por minuto. Os comentários desses haters normalmente começam sempre com as duas palavras da praxe, em caps lock: "É VERGONHOSO!" - Estão a reconhecer alguns, não estão? Eu sei que sim ;) - Essa espécie adora comentar e comenta sempre que tem oportunidade, o que acontece várias vezes ao dia, porque este tipo de haters também não deve ter muito que fazer. São aquelas pessoas que partilham 2040 coisas por dia, sabem?, que nos enervam solenemente e que já ponderamos demasiadas vezes eliminá-las dos amigos. São pessoas que acreditam em TUDO o que vêem nas redes sociais de forma estúpida ingénua e que depois, quando são confrontadas com a realidade, nos dizem, de dedo indicador levantado "Não, não! Eu vi no Facebook!". Ah, bom. Então deve ter sido a BBC que se enganou. 

Estes haters destilam ódio sobre um serviço/produto, mas nunca na página da empresa que presta esse serviço/vende esse produto. Nah! Apenas naquelas páginas criadas para reclamar, para destilar veneno, mas em grupo, sabem? Páginas essas criadas por pessoas que pertencem à mesma espécie. Mas o pior é que essas pessoas que reclamam de TUDO - porque se faz, porque não se faz, porque disse, porque não disse, porque devia de ser azul, porque azul não pode ser, porque se gasta, porque não se investe... - na verdade, não se encontram informadas sobre NADA. Não sabem nada. Não se informam, não perguntam, não se questionam. Apenas leram por aí que é assim e é assim. Verdade absoluta. São pessoas que não conseguem ponderar, serem sensatas, verem o problema noutra perspetiva. Desatam a atacar, e pior, a criar desinformação, porque quem as lê acredita que estas pessoas estão extremamente informadas sobre o assunto. 99,99% das vezes não estão. Nem perto disso. Estas pessoas são aquelas que andam sempre de telemóvel em riste, prontas a fotografar uma situação que lhes pareça incorreta para publicar e denunciar no facebook e, assim, conseguir mais meia dúzia de likes. São também as que põem like no seu próprio post. São as que não estão nem aí para as explicações de quem percebe realmente do assunto, porque a opinião da pessoa já está formada, porque viu - mesmo que não tenha visto nada em concreto ou em contexto - ou porque leu no facebook. São pessoas mesquinhas, indignadas com tudo e tudo as revolta. Daí dizerem "É VERGONHOSO" tantas vezes. No fundo, são as eternas indignadas. Indignam-se com tudo e com muito pouco. É o mood natural delas. Indignam-se porque se ajuda os pobrezinhos, "porque eles têm muito bom corpo para trabalhar" e indignam-se porque ninguém ajuda os pobrezinhos de Portugal "tanta gente aqui a morrer à fome e nós vamos ajudar os outros países". Indignam-se porque se ajuda o vizinho "porque eu sei que eles não precisam de ajuda! Já vi o filho mais novo a chegar a casa com um ovo Kinder na mão. Se têm dinheiro para comprar ovos Kinder não podem ser pobres, não é?". Indignam-se porque se limpam as ruas e "gasta-se água", e indigam-se porque não se limpa e que "as ruas cheiram mal e têm muito lixo". Indignam-se porque "as estradas não estão em condições" e indignam-se porque "só se gasta dinheiro em fazer estradas". Indignam-se porque se apoia os refugiados, "que vêm tirar-nos os empregos e são todos uns terroristas" e indignam-se se virem no telejornal que ninguém os apoiou e uma criança morreu na praia. Para eles, são exemplos máximos da cidadania, são preocupados com a sociedade, são pessoas íntegras, porque se indignam. No entanto, não defendem nenhuma ideologia, não têm uma opinião formada e coerente nem se preocupam em interceder para fazer a diferença. Acordam e pensam "hoje vou indignar-me com o quê?".

 São também estes indignados que estacionam em cima do passeio ou em segunda fila, que atiram papeis para o chão, que ignoram pedidos de ajuda, que dizem que "voluntariado é exploração" ou que fazem as naturais tropelias da "chico-espertice".

Não me interpretem mal, todos nós temos o direito e o dever de reclamar quando vemos que algo não está bem. Mas há a reclamação consciente, coerente, com argumentos fortes, de quem se informou - em sítios ou com pessoas CREDÍVEIS - e há as reclamações de quem nem pondera, não se pôs na outra perspetiva, de quem simplesmente quer reclamar.

No fundo, com este meu desabafo, gostava mesmo muito de explicar que queria que todos nós, antes de partirmos para conclusões precipitadas, tivéssemos o discernimento de analisar a situação, de ver o plano geral e não aquele em particular, de perguntar o porquê do sucedido, de pesquisar e, acima de tudo, de nos pormos no lugar do outro.

Sabem como é pôrmo-nos no lugar do outro? Às vezes custa, mas depois de o fazermos aprendemos a relativizar, a compreender, a sermos TOLERANTES. E a tolerância não é só uma palavra bonita. É necessário pô-la em prática com mais frequência, sabem? Sinto que há cada vez mais gente intolerante, mesquinha e, consequentemente, muito fechada e ignorante.

Vamos falar só quando soubermos do que estamos a falar? Vamos todos fazer esse exercício?
Por favor?


Sticky&Raw
Facebook | Instagram | 
stickyandraw@live.com.pt

Sem comentários: