Se me perguntarem qual foi a minha cidade favorita das três que visitei na minha última viagem, digo-vos - a custo, confesso - que foi Praga. E isso vê-se pela quantidade surreal de fotografias guardadas. Não é mais bonita, nem mais elegante, nem mais cosmopolita, nem mais limpa ou mais segura do que as outras duas, mas foi a que mais me surpreendeu. Senti que a própria cidade era um monumento só, uma cidade de conto de fadas, cheia de surpresas em cada esquina. Adorei tudo em Praga: a arquitetura, o urbanismo meio esquizofrénico, as pessoas, o ambiente, o Natal, a zona do rio, até a comida, mas principalmente a cerveja - e bebeu-se muita cerveja, senhores!
Mas vamos por partes como da outra vez?
Onde fiquei?
Em Praga as nossas opções foram igualmente limitadas, mas podemos dizer que não nos correu nada mal. Ficamos no Cosmopole Hostel, bem localizado, modesto, mas muito pitoresco, como aliás era toda a cidade. O único defeito: apesar de termos um quarto privativo com duas camas, a casa de banho era partilhada. Isto fez-me alguma confusão no início, mas depois quando lá cheguei percebi que não havia problema nenhum. Os balneários eram mistos mas muito limpinhos e privados. Era como se houvesse várias casas de banho completas dentro de um espaço só. Nós entrávamos, fechávamos a porta à chave e tínhamos um WC completo só para nós. Tudo muito tranquilo e nunca houve qualquer problema. Foi uma ótima experiência! Foi talvez o alojamento mais barato e ainda tínhamos incluido o pequeno-almoço que era bem composto e servido no rooftop que tinha uma vista de outro mundo para a cidade... E ainda nos guardaram a mochila durante uma manhã de borla (no hostel de Berlim, por exemplo, pagava-se à hora). Aconselho, se estiverem a pensar ir a Praga.
Onde comi?
No primeiro dia em Praga, jantamos no U Budovce - não me perguntem como é que isto se pronuncia nem o que quer dizer. Fomos atraídas pelo ambiente e pela música jazz ao vivo. Fica numa rua um pouquinho escondida na Cidade Velha. Queríamos comida típica, quentinha e boa. Comemos Goulash, talvez o ex libris da gastronomia checa, húngara e por aí fora. Já tinha experimentado em Portugal num restaurante checo, mas não comi com dumplings. E eu queria muito experimentar dumplings. Em resumo, o prato é um estufado num molho bem rico em sabores - que é como quem diz: picaaaaante!!! -, acompanhado com os tais dumplings que me sabe e parece, nada mais nada menos que pão de forma sem côdea. Tudo combina e tudo sabe bem! Começamos com uma sopa de tomate quentinha e boa e eu juro que era menina para emborcar uma panela daquilo, meus senhores... E as saudades que eu já tinha deste pitéu que me conquistou o coração na Polónia há muitos e bons anos atrás? Que delícia... Para acompanhar, a bela da cerveja preta, claro, em tamanho XXL, que eu acho que não existe outro por aquelas bandas.
O almoço no dia seguinte foi no restaurante dentro do Castelo de Praga, o Kavárna a Restaurante Na Baste - ahahahahah nem tento! Não liguem muito ao site, está desatualizado. O restaurante fica dentro do Castelo de Praga e para quem quer explorar o local, aconselho. A comida é muito boa e os preços não são exagerados, como seria de esperar naquela zona, além disso o espaço é muito bonito e agradável! Nós queríamos comer algo checo, por isso foi a nossa opção, mas certamente que se quiserem algo mais barato (pizzas ou street food) vão encontrar fora do perímetro. Eu comi pato com dumplings, desta vez em duas variáveis: com e sem ervas aromáticas. Gostei muito, mas achei que a minha experiência de gastronomia checa tinha mesmo que parar por ali - aquilo é comida muito potente!
Nesse dia ao jantar, depois de muuuuuuitos quilómetros percorridos, encontramos um restaurante muito apetecível mesmo no segundo centro de Praga. Escolhemos a Pizzaria Coloseum, porque já não dava para comer mais comida checa. Foi um cabo dos trabalhos dar com a entrada para o restaurante, já que fica dentro de um centro comercial, no 1º piso, com uma vista fixe para a Praça Venceslau - o centro nevrálgico das compras e do consumo em Praga. A minha amiga pediu pizza, que estava bem boa, e eu pedi, claro, risotto com presunto - que estava tão salgado que me ofereceu um herpes no dia seguinte - mas que eu gostei muito. A minha amiga acompanhou com uma cerveja e eu com um copo de vinho tinto - risotto é com vinho, certo? ;) - e terminamos com um tiramissú que estava bem bom. Voltamos para o hostel cansadas mas de barriga aconchegada!
O que visitei?
Mal chegamos a Praga, perto das 18h, fomos logo visitar a Cidade Velha (Staré Mesto) onde fica o famoso Relógio Astronómico. Vimos as figuras a passar, espetáculo que decorre a todas as horas e que junta vários turistas para o curto espetáculo. Passeamos pelas ruas daquele centro histórico lindo, maravilhoso e cheio de decorações natalícias - aliás, estavam a decorar a gigantesca árvore de natal e o mercado de natal! Fizemos um pequeno reconhecimento, jantamos pela zona e retomamos ao nosso hostel que o dia seguinte ia ser duro.
No dia seguinte, decidimos visitar o Castelo de Praga, em Malá Strana, e para isso, atravessamos a Charles Bridge, que é uma das pontes mais famosas da Europa e é lindíssima. Conseguimos conhecer melhor o seu significado no dia seguinte, quando fizemos uma espécie de "visita guiada", mas falamos disso mais à frente.
O Castelo de Praga não é apenas um Castelo tradicional, nem nada que se pareça. É um enorme grupo de edifícios, entre eles Museus que explicam a história da cidade, jardins, igrejas e, claro, a grande e magnifica Catedral de S. Vito, que é de visita o-bri-ga-tó-ri-a. A entrada no Castelo é gratuita, mas paga-se para entrar em alguns edifícios e monumentos. Os preços não são elevados e um bilhete dá entrada para várias dependências. Nós não tivemos tempo de visitar tudo, por isso escolhemos apenas o bilhete para visitar a Rua do Ouro e a Basílica de St. George. Mas se vocês forem com tempo para visitar tudo, aproveitem bem o vosso bilhete!
Dentro do próprio recinto havia um Mercado de Natal - pareciam cogumelos! - e aproveitamos para descansar as pernas a beber um chocolate quente. Logo na praça do mercado, visitamos a Basílica de St. George e daí continuamos até à Rua do Ouro. É uma rua onde existem várias casinhas minúsculas e coloridas e é tão pitoresco que parecem de bonecas. Mas a verdade é que naquelas casas habitavam ourives (daí o nome da rua) e outros funcionários do Castelo. Mais tarde, teve um inquilino famoso. Kafka mudou-se para o nº 22. Atualmente servem de lojas de comércio artesanal e museu. Terminamos a visita ao Castelo de Praga nas masmorras, com máquinas de tortura medonhas e alguns esqueletos pelo meio.
A viagem de regresso é maravilhosa devido à vista panorâmica sobre a cidade. Ah, esqueci-me de dizer: subir até ao Castelo não é para meninos, mas vale bem a pena ;)
Pelo caminho de regresso visitamos a Igreja de St. Nicholas que apesar de se pagar a entrada (2,50€, acho!) vale bem a pena para quem gosta de arte sacra ou simplesmente arquitetura, como eu. O interior da igreja é magnifico, todo em mármore branco e rosa e tem um ambiente tranquilo e longe dos empurrões dos turistas.
Antes de voltarmos a atravessar a ponte para o outro lado da margem do rio Vltava visitamos o Muro em homenagem a John Lennon, sem antes passarmos por um novo Mercado de Natal. Aí foi impossível tirar fotografias de jeito porque o pessoal amontoava-se naquele meio metro de muro e fazia autênticas sessões fotográficas! De regresso ao centro de Praga, já na outra margem, seguimos caminho até à zona judaica, Josefov. Infelizmente, quando lá chegamos já não conseguimos apanhar o cemitério aberto, mas ainda o vimos por uma frinchinha de um portão. Seguimos pela rua Parízska e admiramos toda uma panóplia de montras que vão desde Chanel, a Gucci, Chloé, Cartier... Bom, já perceberam.
A este ponto, já era noite cerrada e nem 17h eram. Faltava-nos ver a Praça Venceslau e lá fomos, sempre a entrar nas lojas para nos aquecermos quando o frio nos incomodava demais - quando começou a ficar vento foi duro. A Praça Venceslau é gigante, tipo a Avenida dos Aliados, mas muito, muito maior - ou pelo menos, foi a minha perceção. Entramos em várias lojas - e aproveitei para comprar a prenda de natal para o meu pai - e depois, já vencidas pelo cansaço e pela fome, decidimos que precisávamos urgentemente de uma cadeira e de comida. E nem 19h eram, vejam bem! Mas os checos jantam bastante cedo, para nosso espanto. O que faz todo o sentido, porque como escurece tão cedo, parece sempre que já é tardíssimo. Depois de comermos e bebermos bem, com uma bela vista, decidimos que ainda era cedo para ir para a cama e voltamos à Praça da Cidade Velha para bebermos uma cerveja e celebrar o Pinheiro à nossa maneira - se não sabem o que é o Pinheiro de Guimarães, têm mesmo que pesquisar. No final, voltamos para o quentinho do nosso hostel para descansar.
No último dia em Praga, acordamos com o objetivo de ir conhecer Praga... pelo rio. E lá fomos nós, à procura de empresas que estivessem a vender ingressos. Por 11 ou 12€ fizemos uma viagem de 50 minutos de barco, com direito a guia local, audio-guia em português (e uns phones!), uma bebida quente e um bolo. É uma experiência que eu aconselho MESMO porque ficamos a conhecer Praga numa perspetiva diferente. E sempre podemos ver os belos patos e cisnes que habitam o rio! No final, regressamos ao hostel para recolher as nossas mochilas e seguimos caminho para a estação de comboios, para daí partir para o nosso último destino: Viena.
O que perdi?
Claro que como só ficamos 1 dia e pouco, houve escolhas que nos vimos obrigadas a fazer. Infelizmente não consegui visitar toooodas as igrejas, toooodos os museus, tooooodos os edifícios super importantes. Mas conseguimos conhecer grande parte da cidade, do ritmo, dos hábitos... No fundo, eu gosto de sossegar o espírito e, por vezes, só sentar-me num café a aproveitar o momento. E não há nada de errado com isso, pois não? Gostava de ter entrado no cemitério judeu e a uma sinagoga. Não visitamos museus nem subimos ao monte de Petrin. Também não passamos junto da Casa Dançante.
Sobre Praga
Praga surpreendeu-me por ser tão pitoresca. É uma cidade cheia de movimento e cheia de vida. O que vale mesmo a pena fazer é passear pelas ruas e "perdermo-nos" no tempo - o que não é difícil. Quanto aos preços, foi a cidade mais acessível de todas, muito semelhante à nossa realidade, até porque a moeda não é o euro, mas sim a Coroa Checa. Não se preocupem, quando lá chegarem, basta ir a uma caixa ATM e levantar dinheiro. Por norma também aceitam multibanco, mas convém sempre andar com dinheiro na carteira - um dos restaurantes que fomos não tinha. Ah, também tenham em atenção que há sítios que "exigem" gorjeta.
Apesar de ser a cidade mais "pobre" a nível de estilo de vida dos habitantes, senti-me sempre bastante segura, mesmo durante a noite. Questionei o rececionista do nosso hostel sobre a segurança da cidade e ele, de forma sensata, disse-me que à partida não há problemas, mas convém termos cuidado. E é isso mesmo que vos digo: relaxem, mas tenham o olho aberto, em Praga e em todo o lado, mesmo 1na vossa cidade.
Quando falei do estilo de vida mais "pobre", também me referia à grande quantidade de sem-abrigos que vi em Praga. Muitos. Demais. E partia-me o coração vê-los a pedir daquela forma: de joelhos no chão, cabeça baixa e as mãos estendidas. Não falavam, não olhavam para nós, só estavam ali. Foi o único ponto negativo da visita.
Apanhei temperaturas muito baixinhas e a noite é realmente gelada. Por isso, se forem a Praga nos próximos tempos, levem um casaco bem quente, como este que se vê nas fotos e que eu usei TOOOODOS os dias. Além disso, não se poupem nos gorros, luvas e cachecóis. Não se vão arrepender.
Vale tão a pena ir a Praga!
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