Claro que já ouviram falar ou até já viram o novo anúncio da Gillette.
Se ainda não viram, vejam lá o vídeo aqui em baixo, que eu espero.
Pronto, agora estamos em pé de igualdade para falarmos sobre este assunto que anda a apoquentar muitas almas, especialmente masculinas, e que já levou ao boicote da marca em causa.
Na minha opinião, só por haver este tipo de reações, este anúncio já faz sentido.
O anúncio tem uma mensagem bastante positiva sobre de que forma é que nós, seres humanos, nos podemos tornar melhores uns para os outros. Aqui focam-se apenas nos homens. Há milhares de outros anúncios que se focam apenas nas mulheres. Mas vamos ser claros como a água: ao longo dos séculos os homens têm vindo a ser o sexo privilegiado, controlador, abusador e, não percebo muito bem como, foram sendo sempre desculpados com frases como "boys will be boys". E isso não está correto. Não está mesmo nada correto.
E não falamos apenas de casos graves de assédio ou até mesmo de violação. Não. Falamos de coisas mais subtis, mais do dia a dia que acontecem e que são retratadas no anúncio: mulheres a serem silenciadas numa reunião rodeada de homens - que nunca, não é?! -, crianças vítimas de bullying com os pais dos agressores a responderem "é só uma brincadeira, eles são miúdos" - quem nunca, parte II!!! -, o assédio na rua, na escola, no trabalho, ainda que em forma de piada, elogio ou piropo. You name it. E acredito que alguns homens nem percebam o desconforto e o sentimento de injustiça que causam porque, mais uma vez, estas atitudes já estão tão intrínsecas que se tornaram banais.
Rejeito sempre as generalizações. E continuo a rejeitar neste caso, mas admito que este anúncio faz todo o sentido até porque vários exemplos retratados estão no nosso dia a dia, estão incutidos na nossa cultura. Nossa, dos homens, que os praticam sem, por vezes, se aperceberem do que estão a fazer, porque ouvem os pais a dizer, vêem os amigos a fazer e normalizam estas práticas. Nossa, das mulheres, porque passamos uma vida a desculpabilizar todas as atitudes machistas, de assédio, de descriminação, de diminuição.
Não sei se repararam, mas neste vídeo não é apenas o homem que é criticado.
E isto é muito importante referir!
A mulher também é posta em causa, como o ser obediente, como a que fica calada, silenciosa perante um abuso para com o seu corpo e o seu intelecto, a que abana a cabeça em concordância, a que se ri e que se predispõe a parecer um objeto sexual para procurar a aprovação de seja quem for - mas deixo já aqui explícito que essa atitude da mulher não dá o direito a ninguém de a assediar ou de partir do princípio que pode usar e abusar dela.
Por outro lado a própria sociedade é posta em causa. Toda ela. Todos nós. Que ouvimos e não intervimos, que vemos mas não atuamos. Que rimos. Que comentamos. Que atiramos mais lenha para a fogueira. Que gozamos. Que passamos e viramos a cara ao lado. Que achamos tudo muito normal, coisas "de miúdos" ou que "é só uma brincadeira".
O foco desta campanha são os homens, porque são eles que neste momento podem ser a diferença no mundo - e porque são eles o público alvo da Gillette, claro. São eles que podem perceber o que está errado e melhorar. Mas também somos todos nós, sem generalizar, mas a acertar no foco:
Isto é mesmo o melhor que podemos ser?
Todos. Sem exceção. Homens. Mulheres. Nós como comunidade.
Só pelo facto de estarmos a falar sobre isto, só pelo facto de existir discórdia, boicotes à marca, pessoas absolutamente revoltadas com tudo isto, me leva a pensar que este tipo de mensagens têm que continuar a ser espalhadas. Mais. Melhor. Maior. Em todo o lado. Até ser absorvida, compreendida e aceite como uma verdade irrefutável.
Homens, não tomem isto como uma ofensa. Olhem para este anúncio como um abre-olhos e comecem a fazer a diferença. Porque vão mesmo fazê-la, sabem?
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