segunda-feira, 26 de agosto de 2019

Amazónia



Era impossível não vos falar sobre a tragédia que está a acontecer na Amazónia. Sinto que é fundamental estarmos informados e esclarecidos sobre tudo isto para que possamos tomar atitudes e não apenas partilhar uma fotografia e um hashtag #prayforamazonia. É que rezar não apaga fogos e gostos ou partilhas nas redes sociais nunca fizeram muito na luta pela defesa do ambiente, portanto, está na hora de sabermos mais para fazermos melhor. Foi nesse sentido que mergulhei em artigos, reportagens e textos de opinião para entender melhor a profundidade deste assunto.


A Amazónia é a maior floresta tropical do mundo, com 5 milhões e meio de quilómetros quadrados e não só é casa da maior biodiversidade registada numa só área no Planeta, como também de vários povos indígenas. Só para terem a noção da sua dimensão, a Amazónia abrange territórios do Brasil, Perú, Colômbia, Bolívia, Venezuela, Equador, Guiana, Guiana Francesa e Suriname. Mais importante que isto: é responsável pela produção de 20% do oxigénio que existe na atmosfera. E está a morrer, logo, estamos todos a morrer.


Fala-se muito da desflorestação da Amazónia, por isso, acho importante iniciarmos por aí e depois irmos desdobrando este assunto noutros temas igualmente importantes. Já sabemos que a desflorestação significa a perda de densidade de floresta, mas porque é que isso é mau? Porque as florestas são importantíssimas para a absorção de GEE (gases efeito estufa) e, por isso, mantêm o nosso Planeta mais habitável. Os registos comprovam que até 2014 a desflorestação diminuiu, porém, com o governo da Dilma os números voltaram a subir e prevê-se que 2019 seja o ano mais catastrófico. Segundo os dados do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), a primeira quinzena de julho registou um desmatamento de 1 000 quilómetros quadrados, mais 68% do que todo o mês de julho de 2018.




Claro que a desflorestação da Amazónia também tem uma percentagem de causas naturais (é muito fácil iniciar um fogo numa área seca e já desflorestada), apesar de ser mínima. Existe também uma grande fatia relacionada com a exploração da madeira, de minérios e petróleo, mas 40% deve-se à exploração dos terrenos para a pecuária (pasto) ou cultivo de soja (já lá vamos!). Existem empresas legais que têm acordos legais com o Governo, que se comprometem a proteger uma percentagem desse terreno, porém, há um sem fim de casos de apropriações ilegais de áreas que resultam em confrontos violentos com as comunidades indígenas que ali habitam.


Tudo isto complicou com o início do governo de Bolsonaro porque este defende uma política mercantilista totalmente ultrapassada (o que não é de admirar) e mostra-se muito pouco preocupado com as questões ambientais. O problema reside na exploração de recursos naturais da Amazónia para desenvolver a economia brasileira (daí já termos ouvido falar de auto-estradas, barragens e outras ideias semelhantes para serem construídas na floresta). O Brasil é um país pobre, em desenvolvimento, cheio de problemas sociais, políticos e económicos. Num país onde a segurança é já quase um mito urbano e a fome é a realidade de milhares de famílias, a proteção da Amazónia não é uma prioridade. Vai daí que em 2008 a Noruega e a Alemanha acharam que estava na hora dos países desenvolvidos se unirem para apoiar e para protegerem um património importante para o Planeta. Criaram então o Fundo Amazónia para apoiar a proteção e o desenvolvimento da floresta através de projetos ambientais ligados a estados, municípios e iniciativas privadas, num valor total de 771 milhões de euros, quase todos doados pela Noruega. Porém, o presidente do Brasil achou por bem extinguir os comités responsáveis pela gestão do fundo e a desrespeitar o acordo inicial, especialmente quando o assunto era a apresentação dos resultados obtidos. A Noruega já avançou que vai cancelar o apoio, o que é compreensível, mas muito preocupante. Entretanto, Emanuel Macron reuniu na cimeira do G7 os 7 países mais ricos do mundo para estabelecer um acordo para a criação de um fundo global para combater os incêndios na Amazónia. Até ao momento que escrevi este post ainda não havia conclusões deste encontro.


Somado a isto, temos um Ministro do Ambiente brasileiro acusado de fraude ambiental (how ironic!), um governo a perdoar multas ambientais e o lobby fortíssimo dos agricultores (que é do interesse do governo porque simboliza mais lucro). Estão aqui todos os ingredientes para dar asneira. Claro que Bolsonaro foi eleito por uma maioria, logo, ele não pode ser a única pessoa responsabilizada por estes atos, mas sim toda a sociedade, especificamente quem votou nele e quem nem sequer votou. Isto leva-nos, no entanto, a questões sociais que estão ligadas aos problemas políticos e ambientais do Brasil e é fundamental compreendê-las.


Infelizmente, o Brasil não tem uma população educada, informada e consciente das suas responsabilidades e das consequências dos seus atos a nível global, porque muitas vezes nem acesso à internet tem. Num país em que é preciso lutar por segurança e comida, as questões ambientais são altamente secundárias na lista de prioridades de um brasileiro. E isso também é compreensível. Sem educação e informação, claramente não se tornaram eleitores conscientes, responsáveis nem esclarecidos (isso já não acontece em países desenvolvidos como Portugal, quanto mais...).




A questão que se impõe é:
O que é que nós podemos fazer para ajudar?

A minha pesquisa sobre este tema deveu-se a esta questão: que raio é que eu posso fazer? Então fui procurar respostas. Depois achei que deveria partilhar isto convosco, que também é uma forma de apoio. Foi com este objetivo que escrevi este post, para partilhar o que é possível fazermos para preservarmos a Amazónia e o nosso Planeta, já que não podemos ir apagar os fogos... E não, não é partilhar uma fotografia no Instagram. Também não é usar um hashtag qualquer. Podemos fazer muito melhor que isso!


1. ASSINAR UMA PETIÇÃO
É a medida mais fácil de pôr em prática. Eu assinei esta petição "Impedir o desmatamento e exploração da Amazónia!". Vocês podem fazer o mesmo ou outra.


2. ESTAR INFORMADO/A
Parece simples, mas não é bem assim. Sejam curiosos, pesquisem, questionem-se, fundamentem as vossas opiniões e comportamentos com informações credíveis, sólidas e claras.


3. VOTAR!!!
Há eleições à porta e nós temos mesmo que nos convencer que votar é uma grande responsabilidade. Já nem falo apenas no ato de votar, mas o de votar em consciência. É cada vez mais imperativo que se conheça os manifestos eleitorais dos partidos, que se estude as suas estratégias e prioridades. Só assim seremos capazes de votar em consciência plena no partido que melhor se adequa àquilo que nós acreditamos.


4. CONSUMIR DE FORMA CONSCIENTE
Estamos um pouco cansados de ouvir isto, mas não se compreende ainda muito bem o impacte que um consumo desenfreado ou pouco esclarecido tem a nível global. Já nem falo apenas de consumir menos, que isso já é óbvio, mas precisamos de consumir bem. Antes de comprarem, percebam de onde vem o produto e tomem uma decisão consciente. Claro que não podemos votar nos Estados Unidos da América, nem no Brasil, nem na Coreia, nem em lado nenhum fora de Portugal. Então é impossível influenciar esses países a tomarem medidas diferentes. A pergunta é: será mesmo impossível? Consumir de forma consciente é, sem dúvida, uma forma de "voto" e isso pode mesmo influenciar políticas de produção, importação/exportação e investimentos. Quando estamos a falar de alimentos é bem mais fácil descobrir a sua proveniência e perceber que os produtos são nefastos para o Planeta, não pela sua constituição, mas pela sua produção. O que nos leva ao quinto ponto:


5. CONSUMIR MENOS CARNE
Este ponto dá pano para mangas e foi por isso que o deixei para o final. É a medida mais importante de todas: consumir menos carne ou excluí-la totalmente da nossa alimentação. Está mais do que provado que a indústria agropecuária é responsável por mais emissões de GEE do que as maiores petrolíferas do mundo. Somado a isto, 40% da área da Amazónia desflorestada serve essa mesma indústria através de pasto e campos de cultivo de soja. Uma curiosidade que descobri com as minhas pesquisas é que existe uma enorme produção de soja no Brasil (e noutras florestas no Planeta) para alimentar os animais, logo, quanto mais crescer o negócio, maior a necessidade de alargar os campos de cultivo. A produção de soja na Europa tem uma regulamentação muito rigorosa. Não existe produção de soja trangénica e a preservação do solo é assegurada (até porque ninguém minimamente esperto quer acabar com o seu próprio negócio, correto?). Aqui está mais um exemplo do que é consumir de forma consciente: escolher soja europeia é mais sustentável (por todos os motivos e mais alguns) do que soja proveniente de outras zonas do mundo, especialmente provenientes de florestas. Os produtores de gado misturam a soja na ração para criar um alimento mais barato e igualmente nutritivo e benéfico para os animais, mas como o negócio da agropecuária é um dos maiores do mundo, a grande maioria da criação de soja destina-se a este fim. Sabendo nós que quase metade da desflorestação da maior floresta tropical se deve à criação de gado para consumo, então há alguma coisa de errado neste quadro. É fundamental tomarmos a consciência, de uma vez por todas, que o consumo exagerado de carne não faz bem ao Planeta nem à saúde de ninguém. Idealmente deveríamos alimentarmo-nos à base de plantas e vegetais, dieta que não traz quaisquer problemas de saúde, muito pelo contrário, segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde) e nutricionistas. Aconselho-vos a verem o documentário What the Health (2017) e verão todas as vossas dúvidas esclarecidas sobre este assunto. Não é tão in-your-face como o Cowspiracy (que também aconselho), mas dá-nos perspetivas muito claras daquilo que andamos a fazer ao nosso corpo. Se quiserem, posso até um dia falar sobre os vários documentários sobre alimentação / ambiente que já vi... Bom, mas estava a dizer que este tipo de dieta não pode ser imposta de um dia para a noite porque há quem não tenha condições para a adotar. Imaginem uma família brasileira sem acesso à internet ou outros meios de comunicação alargados. Se lhes fosse vedado o acesso à carne, como é que iriam sobreviver de forma saudável sem meios de pesquisa e sem terem conhecimentos sobre alimentos igualmente nutritivos? Iriam acabar por alimentar-se à base de arroz e batata, o que iria trazer outros problemas nutricionais. Não é isso que se pretende, por isso é que é fundamental que este passo seja dado por pessoas esclarecidas, com acesso à informação, a um sistema de saúde competente e à liberdade de escolha. Não digo que devemos todos deixar de comer carne (acho difícil isso acontecer), mas reduzir bastante e consumir de forma consciente, que é como quem diz: diz-me de onde vens, dir-te-ei se te como. A carne portuguesa é muitas vezes criada em pasto e com uma produção mais ou menos sustentável. Então podem perguntar-me se estão a comer carne portuguesa, não estão a contribuir para o desmatamento da Amazónia. Não necessariamente. Esses animais podem estar a ser alimentados por soja brasileira e aí a porca torce o rabo. Questionem o vosso talho sobre os fornecedores, a proveniência da carne, a alimentação dos animais, etc. Nós temos o direito de saber o que metemos no nosso corpo, certo? O consumo consciente é exatamente isto.




O post já vai longo, mas eu tenho ainda a dizer que tenciono pôr em prática tudo aquilo que vos descrevi aqui. Quanto ao consumo, já tenho escrito várias coisas sobre isto. Estou cada vez mais consciente do consumo da indústria da moda e, por isso, fiquei muito feliz com esta notícia. Em questões ambientais estou a criar hábitos sustentáveis, mas há sempre muito mais coisas que deveríamos estar a fazer. Sobre a carne, penso que já partilhei convosco que me comprometi a não comer carne durante um mês (em março ou abril). Nunca vos cheguei a contar essa minha experiência, mas a verdade é que desde o início deste ano que reduzi drasticamente o consumo de carne por questões ambientais. O mês Zero Carne foi passado de forma muito tranquila e quase nem me apercebi desta "restrição", apenas quando ia jantar fora - e custa não comer o meu rico arroz de pato, vá. De resto, zero stress, zero problemas, zero ansiedade, zero sacrifícios. E continuei a fazer exercício e uma vida absolutamente normal. Aumentei o consumo de cogumelos, feijões e grão de bico, bem como de fruta e frutos secos. Hoje em dia como carne, mas de forma muito esporádica - e com tendência a diminuir. O que vos quero dizer com a minha experiência é que não é preciso acordar de manhã e mudar tudo de forma radical nem entrarmos em histeria ou fundamentalismos.


Um passo de cada vez, mas passos sustentados e sustentáveis ;)


Informem-se, consumam de forma consciente, votem e reduzam a carne no vosso dia a dia. São coisas tão simples de fazer tendo em conta os estragos que já fizemos à nossa Natureza...


Espero que este post tenha sido esclarecedor! É também para isso que cá estou.





Sem comentários: