terça-feira, 24 de abril de 2012

Estranha forma de vida

No jornal da noite da TVI passou uma reportagem sobre a violência nas escolas entre alunos e professores. Passaram testemunhos de ambas as partes e tenho a dizer que fiquei chocada com algumas histórias que contaram, com a atitude de alguns jovens quando questionados sobre o que faziam dentro da sala de aula, ao que eles respondiam, sem arrependimento, que chamavam nomes à professora, atiravam papelinhos para o quadro, subiam às cadeiras e mesas, enfim, uma panóplia de acontecimentos vergonhosos que, muito sinceramente, que irritam bastante porque estão a denegrir a imagem de todos os alunos.
Hoje em dia ser professor é tarefa árdua, mas ser professor, amigo e ainda assim ter pulso para todo o tipo de temperamentos dentro da sala é praticamente impossível, raro. E por isso se ouve muitas vezes "É tão difícil ser professor!", "Não imaginam o que é ter de conviver com os alunos tantas horas...", "Não me pagam para isto!" e deixa-me triste. Sempre sonhei ser professora de português, inglês, história, o que fosse, o que eu queria era ensinar, mas fui por outro caminho - onde essa hipótese não está completamente posta de parte - mas por vezes ponho-me a pensar "Teria eu a capacidade de manter a calma depois de um aluno me levantar a mão? Seria capaz de 'comer e calar'? Seria eu mulher para me controlar e não lhe dizer das boas e mostrar como é que se tira a revolta? Seria capaz de manter a postura e mostrar-me superior àquele pirralho de cadeira na mão pronto a atirá-la na minha direcção?" Acho que não era. Os professores não são devidamente valorizados, não são devidamente remunerados, não são devidamente apoiados, porque não cabe a eles educar os meninos, ensinar-lhes a comportarem-se bem nem a ter boas maneiras. Os meninos já devem trazer isso de casa, já devem chegar à sala e saber ser e estar. Mas não sabem. E os professores têm de perder o precioso tempo (cada vez mais contadinho) e em vez de ensinar o que está no manual, ensinam a essas pequenas criaturas como é ser uma pessoa cívica que vive em sociedade.
Felizmente nunca presenciei situações realmente graves em nenhuma turma, apenas um episódio aqui ou ali que rapidamente foi contornado e que em nada se comparam aos relatos que ouvi na reportagem. Claro que falaram de alunos problemáticos, de famílias instáveis ou completamente disfuncionais, que não vivem com os pais, ou se vivem estão rodeados de violência e álcool e drogas e todo este ambiente não lhes permitiu crescer como felizmente eu cresci. A ausência de regras, de "nãos", de carinho também, tornou-os assim, revoltados e agressivos e como em casa não podem descarregar toda a frustração, fazem-no na escola, com os colegas, com os professores, com as funcionárias. E é isto.
A criança não tem uma infância saudável, descarrega na escola, o sistema obriga a suspensão do aluno, o aluno fica sem apoio de ninguém e pronto, cá temos mais um delinquente a passear-se nas ruas. Nunca se soube se esse aluno tinha capacidades, se tinha algum talento, se daria um bom músico, um bom matemático, quem sabe, um bom advogado se devidamente trabalhado e acompanhado. Não se sabe. É este ciclo que se tem de travar. Mas os psicólogos e as assistentes sociais ficam muito caros ao Estado. É mais barato manter jovens na prisão, porque com uma (não) educação destas, é aí que todos vão parar - na melhor das hipóteses.

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