quarta-feira, 13 de junho de 2012

Fernando Pessoa

O post abaixo é uma pequena brincadeirinha, claro, mas é que hoje, se fosse vivo, Fernando Pessoa faria 124 anos! (Imaginam se ele ainda estivesse vivo a quantidade de heterónimos ia haver?!) e eu quero homenageá-lo com um dos meus poemas favoritos:

Poema de Álvaro de Campos

Dobrada à moda do Porto
Um dia, num restaurante, fora do espaço e do tempo,
Serviram-me o amor como dobrada fria.
Disse delicadamente ao missionário da cozinha
Que a preferia quente,
Que a dobrada (e era à moda do Porto) nunca se come fria.

Impacientaram-se comigo.
Nunca se pode ter razão, nem num restaurante.
Não comi, não pedi outra coisa, paguei a conta,
E vim passear para toda a rua.

Quem sabe o que isto quer dizer?
Eu não sei, e foi comigo...

(Sei muito bem que na infância de toda a gente houve um jardim,
Particular ou público, ou do vizinho.
Sei muito bem que brincarmos era o dono dele.
E que a tristeza é de hoje).

Sei isso muitas vezes,
Mas, se eu pedi amor, porque é que me trouxeram
Dobrada à moda do Porto fria?
Não é um prato que se possa comer frio,
Mas trouxeram-me frio,
Não me queixei, mas estava frio,
Nunca se pode comer frio, mas veio frio.


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