sexta-feira, 2 de novembro de 2018

Lumos



Perguntam-me muitas vezes porque é que gosto tanto de ler e acham sempre estranhíssimo quando eu digo que ler é um prazer para mim. Leio desde que aprendi a ler. Tinha livros à minha volta muito antes disso. A leitura faz parte do que eu sou.


Mas há livros e livros. 


Há livros que gostamos mas não perdemos mais de uns minutos a pensar neles quando terminamos. Há outros que os levamos para a vida. Tal como aconteceu com toda a sequela do Harry Potter.


Quando as mães de miúdos me dizem que querem que eles comecem a ler mas não há nada que os cative, pergunto sempre "Já conheceram o mundo do Harry Potter?". Invariavelmente, a resposta é não. Quando colegas meus me dizem que não compreendem como é que eu lia tanto em miúda, pergunto-lhes "Alguma vez leste Harry Potter na tua infância?". A resposta é certa: Não.


É por isso que as minhas prendas de aniversário a crianças que já aprenderam a ler é sempre o primeiro livro do Harry Potter.


Tinha 7 anos quando entrei no mundo mais mágico que alguma vez vi. Fui ao cinema com um primo mais velho e a namorada numa noite gelada de novembro, num cinema que já não existe. Fomos ver um tal "Harry Potter e a Câmara dos Segredos". Desconhecia por absoluto, mas fui. Não tenho palavras para vos descrever como saí daquela sala. Provavelmente, mudou a minha perspetiva da vida até aos dias de hoje. O passo seguinte foi procurar os livros já existentes, porque não havia paciência para esperar mais um ano para voltar a sentir aquela magia. Simplesmente não dava para esperar...




 Harry Potter e a Pedra Filosofal. Foi o primeiro livro "grande" que li. Estava no 2º ano e lembro-me que o levava para TODO o lado. Em pouco mais de 15 dias despachei a leitura. Seguiu-se o segundo, o que tinha ido ver ao cinema, e a rapidez com que o devorei foi a mesma. E assim continuou, sucessivamente. O gosto pela leitura desenvolveu-se tanto que desde aí não há um dia em que não tenha um - normalmente mais - livro na minha mesinha de cabeceira.


Os filmes acompanharam o meu crescimento. Quando entrei para o 3º ano, estreou o 3º filme, "Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban", no 4º ano "Harry Potter e o Cálice de Fogo"... Fui crescendo com o Harry, o Ron e a Hermione na tela de cinema - e com as excessivas repetições em casa, no DVD.




E que felicidade era ir ao cinema! Que felicidade que era pegar no livro novo e chegar a meio logo ali, naquela mesma noite. 


Que felicidade... 


Eu acreditava mesmo naquela magia. E continuo a acreditar. Juro que sim, que acredito. Claro que não acredito no Voldemort nem nas vassouras que voam, mas acredito na coragem, na amizade, na magia que todos temos dentro de nós, acredito nos ensinamentos do Dumbledore, na amizade humilde do Hagrid e no amor do Snape. 


O mundo encantado que a J. K. Rowlling criou existe - e vai sempre existir, assim o espero - na minha cabeça, e acho que seríamos todos adultos muito mais felizes, mais tolerantes e mais desprendidos se proporcionássemos a nós próprios a incrível aventura de acreditar, de viver a magia e de sermos crianças para sempre.




Eu peço que Hogwarts nunca deixe de ser casa, que os feitiços nunca esmoreçam na minha memória e que a amizade de anos com os meus feiticeiros favoritos não morra. Pode esmorecer, que a vida às vezes é cinzenta e afasta-nos deles, mas morrer, não pode. 


Foi por me sentir mais aborrecida, desmotivada e sem criatividade nenhuma por causa de coisas cá da vidinha que a semana que passou fiz um acordo comigo: um filme do Harry Potter por dia. E cumpri. Bom, ao sétimo dia confesso que fui lambona e vi os dois últimos seguidos. O meu maior medo era no final achar que aquilo já não fazia sentido, que já não me fazia sonhar e que eu simplesmente já não achava piada nenhuma à história.


Sabem o que aconteceu?


O mesmo que naquela sala de cinema, naquela noite fria de novembro, há 18 anos atrás.


(P.S. E depois, coincidência ou não, voltei a pintar!)