quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

Berlim



Que maravilha que Berlim foi. É uma capital moderna, prática, funcional e até um bocado fria - e não me estou a referir apenas à temperatura. Os alemães têm um jeito muito próprio de ser e dizer que são antipáticos não é muito simpático da nossa parte. Claro que há gente querida e amável por lá, nós encontramos algumas, mas mais do que isso, os alemães são pragmáticos. Não têm que ser simpáticos connosco só porque existimos e porque estamos ali. Têm que fazer o seu trabalho e fazê-lo bem feito, ponto final. Tudo bem, apesar de no início ser um choque não nos sorrirem de volta.


Mas vamos voltar ao que interessa: a cidade!


Onde fiquei?

Escolhemos o Generator Berlin Mitte: um hostel muito jovem, moderno e animado e cheio de boa onda, perto de Alexanderplatz. Tem uma estação de metro a dois passos de distância, bar/restaurante e condições incríveis. Os preços são simpáticos. Eu partilhei um quarto misto com 4 camas e WC privado e a experiência foi muito boa. Reservamos através da plataforma Hostelworld - que já usei algumas vezes e nunca me falhou!


Onde comi?

No primeiro dia, mal chegamos, fomos ao Sixties Diner. É um sítio super giro e super Pulp Fiction que adorei conhecer. Os hamburguers eram maravilhosos - ou era a fome? - e o pormenor da jukebox onde podíamos escolher as músicas que queríamos ouvir sem sair da nossa mesa foi mesmo giro. Ponto negativo para a funcionária mais antipática de sempre - a única que foi realmente carrancuda. Aconselho pela experiência e pela comida.


No dia seguinte almoçamos no L'Osteria. E que almoço, meus senhores. Para começo de conversa, o restaurante italiano era giríssimo, provavelmente dos mais bonitos e agradáveis onde já estive. Moderno mas sem ser pretensioso. Os funcionários foram agradáveis e disseram logo que uma pizza dava para duas pessoas à vontade - e dá mesmo! As pizzas eram de comer e chorar por mais e a cerveja era maravilhosa... Que belo almoço aquele... Fica afastado do centro e os preços são bem acessíveis - foi mais barato do que o jantar da noite anterior.


O jantar desse dia foi no hostel, mas posso dizer-vos que não vale a pena provar os nachos!


O que visitei?

Começamos o dia no East Side Gallery, onde ficam os 2km do Muro de Berlim. Basta uma curtíssima viagem de metro até lá e percorrer aquele passeio com aquele pedaço de história do nosso lado. Há sempre gente a fotografar, mas não havia multidões. Não contem com um muro enorme e alto. É um muro como todos os outros, mas pintado. Existe também um pedaço pintado pela portuguesa Ana Leonor. Vale a pena passar por lá.


As Portas de Bradenburgo são monumentais. Fica no fim da Unter der Linden, a grande avenida de Berlim. É um bom sítio para tirar a fotografia da praxe. Mais à frente, do lado direito, encontram a Reichstag ou o Parlamento Alemão, que é um edifício monumental, bonito e enquadrado. Nós não entramos, mas existe uma cúpula em vidro que dá para ver Berlim em 360º. Para o fazer, têm que agendar a visita com antecedência, mas a entrada é gratuita. 

Do lado esquerdo de quem vem das Portas de Brandenburgo, encontramos o Denkmal für die ermordeten Juden Europas, ou o Memorial aos Judeus Mortos da Europa. Este deve ser o Monumento aos Judeus mais famoso de sempre. Eu achava que não ia ter qualquer sentimento ali, naquele aglomerado perfeito de quase 3 000 blocos de cimento, mas a verdade é que me senti pequenina, sozinha - é fácil de nos "perdermos" ali - e isolada - é como se a cidade ficasse longe dali, e a verdade é que estávamos bem no centro. Ajudou não estar quase ninguém por perto. Aliás, Berlim estava deserta naquele dia... Não podem mesmo perder essa visita!

Seguimos para o Tiergarten, o jardim mesmo em frente a todos estes monumentos que referi. Descreveram-no como um dos mais bonitos da cidade, mas ou eles não têm muitos jardins ou eu tive azar. Claro que as árvores não estavam verdejantes e havia amontoados de folhas secas em todo o lado... E um sossego... Foi um passeio giro, porque tínhamos que seguir naquela direção, mas acredito que no verão ou na primavera seja algo muito mais bonito.


Se só pudesse ver uma coisa em Berlim seria a Bauhaus. Depois de uns bons 30 minutos a caminhar, demos com o edifício digno de visita e de montes de fotografias, mas batemos com o nariz na porta! Estava abandonado, vazio. Quase que chorei ali mesmo. Depois fiz uma pesquisa no Google que dizia que o Museu estava temporariamente encerrado mas existia um edifício temporário que poderia ser visitado. Mais uns 30 minutos de caminhada - paramos para almoçar a meio - e encontramos aquela pequena loja. Pensei que fosse a entrada para o museu e fui à senhora do balcão perguntar onde podia comprar os bilhetes. Disse-me que não existia museu naquele momento porque para o ano a Bauhaus celebra 100 anos de existência e, por isso, estão a preparar uma abertura em grande. Neste momento só existe aquele espaço, com pouquíssima informação sobre a primeira e maior escola de design de sempre - até me arrepio só de pensar em tudo o que aconteceu no mundo por causa de pessoas como o Walter Gropius, Kandinsky, Klee, Mies van der Rohe, entre tantas outras... - e artigos para compra. Não resisti e comprei um livro sobre a escola e três postais com pinturas de Wassily Kandinsky, que é o meu pintor favorito - a par do Toulouse Lautrec, claro - e que pretendo emoldurar e pendurar numa parede com destaque cá em casa. E ter muito orgulho em tudo isso... A arte faz-me tão feliz... Aconselho vivamente a que pesquisem sobre a escola e, se por acaso forem a Berlim em 2019, não percam esta oportunidade! 


Querem que faça um post sobre a Bauhaus aqui? 
Podem ler um pouquinho do que escrevi aqui em 2012.



Depois desta visita continuamos caminho no sentido inverso. Passamos por Friedrichstrasse, Postdamer Platz, visitamos o Checkpoint Charlie, que vale pelo seu simbolismo - era o ponto de passagem entre a Alemanha ocidental e a oriental, que estava dividida pelo Muro. São tudo pontos de referência que vale a pena conhecer ao longo da caminhada. Que nem custa muito, porque Berlim é uma cidade bonita e que fica toda iluminada no Natal.

Terminamos o passeio de novo em Unter den Linden, e aí procurei a Bebelplatz (de costas para as Portas, à direita) por causa do monumento em memória aos livros queimados pelos nazis. É muito simples e tão simbólico: um vidro no chão que deixa ver prateleiras brancas vazias, simbolizando os livros que foram queimados ali mesmo, por serem considerados perigosos ou ofensivos pelos nazis. Poucas pessoas sabiam essa história. Eu, como amante de livros e de conhecimento, não fiquei indiferente.



Nesse dia seguimos para o hostel, onde comemos e descansamos - devemos ter caminhado uns 20km à vontadinha. No dia seguinte, depois do check-out, seguimos para Alexanderplatz onde visitamos o Mercado de Natal (mais um) e fomos ver o famoso relógio que marca os fusos horários em vários pontos do mundo, incluindo Portugal Continental e Ilhas. Dessa praça apanhamos o autocarro que nos levou até Dresden e daí a Praga.


O que perdi?
Todos os museus em Berlim. Não visitamos a Ilha dos Museus, mas não tivemos mesmo tempo para o fazer. Na minha lista ainda tenho, pelo menos, o Museu de Pérgamo para conhecer, numa próxima.
Também não experimentei nenhuma comida típica de Berlim, que se resumem a salsichas. Mas já comi um cachorro em Frankfurt, portanto... Também não fui a nenhum bar nem a nenhuma loja de artigos em 2ª mão que toda a gente fala e que eu não encontrei em lado nenhum. Ah, e Bolas de Berlim, nem vê-las!


Sobre Berlim


Gostei imenso da cidade, apesar de a achar meio deserta para uma capital europeia, o que não é uma desvantagem, mas não percebi bem o porquê. Senti-me sempre segura em todo o lado, havia postos de polícia em várias avenidas, vários carros patrulha (de manhã e de noite) a passar, tudo bastante seguro. O metro é mais antigo do que, por exemplo, o de Londres, mas funciona bem e o ambiente é muito tranquilo. Há gente a pedir esmolas, mas de forma muito digna e não têm mau aspeto. Por exemplo, vimos um senhor a pedir no metro e depois a sentar-se e a ler o jornal, como uma outra pessoa qualquer. A cidade era limpa e muito organizada. Os monumentos estão bem preservados e tudo tem um aspeto asseado, cuidado e estimado. É uma capital bem mais calma e organizada do que nas outras onde já estive.

Como pontos negativos, anoitece demasiado cedo, tipo às 16h30 é noite cerrada, o atendimento nem sempre é muito bom, os restaurantes que não sejam fast food são carotes. Fica tudo bem mais caro porque em todo o lado somos instigados a pagar a tip. Aliás, os funcionários fazem questão de nos perguntarem quanto é que queremos dar de gorjeta e que o "aceitável" são 10% do valor final. Não gostei dessa atitude.

Em resumo, acho que Berlim é uma cidade magnífica, que ainda vive muito virada para a sua história da II Guerra Mundial e a Guerra Fria - mais de metade da cidade foi destruída e teve que ser erguida de novo. Gostei imenso, senti-me bem e um dia gostava de voltar pelos museus. Se estiverem a pensar numa viagem pela Europa, Berlim deve de estar nos vossos planos. 2 dias são o suficiente para conhecer bem a capital.



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