Sou só eu que me aconchego no sofá todos os domingos à noite para ver o novo episódio de Pesadelo na Cozinha? Não me venham com o "O programa do César Mourão é mil vezes melhor" ou "Lê mas é um livro que te faz melhor" ou "Tantos canais por cabo e estás aí a ver um reality-show sensasionalista".
Deslarguem-me pessoas!
Eu gosto MESMO de ver este programa. Gosto, pronto! Dá-me prazer ver o chef Ljubomir pôr ordem naquelas confusões. Jeez... É que em alguns casos até enerva de como é que as pessoas não têm mesmo dois dedos de testa para perceber que quem mexe no dinheiro deve lavar as mãos antes de mexer na comida. Isso é higiene, não são "manias de chef". É que eu acho mesmo que o que se passa naqueles episódios é um retrato real do nosso país: pessoas que não estão felizes com aquilo que fazem, não se sentem especiais, têm a auto-estima no lodo, lutam diariamente para se manterem à tona e não mexem o cu para mudar o que está mal. Sabem aquela metáfora do cobertor? Que puxamos para cima e aquecemos as costas mas os pés ficam destapados e depois aquecemos os pés mas as costas ficam ao frio? É igual. Tenho visto exemplos graves de pessoas que vão tapando o sol com a peneira, em vez de arregaçar as mangas e cozer mais um bocadinho de cobertor ou comprar um novo, maior.
Ao mesmo tempo diz-me que a maioria dos portugueses das gerações que temos visto nos programas acomodam-se. Acomodam-se sempre. Mas eu acho que isso é uma tendência do país. Acomodam-se e vão "remediando como podem" sem nunca viverem plenamente felizes nem realizados. Isso incomoda-me. O comodismo incomoda-me muito.
E, por fim, nota-se uma clara falta de cultura geral. Não estou a falar sobre saber as capitais dos países ou o número de distritos de Portugal. Estou a falar do mais básico que há: de pesquisar novas técnicas, novas receitas, novas formas de gestão, novas decorações, métodos para rentabilizar o negócio... Isso tudo está à distância de uma simples pesquisa no Google. Depois é só pôr em prática e ir testando. Não existe essa vontade nem essa proatividade. Não existe sequer - ainda mais grave - a noção de que podem ir pesquisar e aprender isso sozinhos! É essa cultura geral, do empoderamento, do do it yourself, que eu acho que não existe.
A nossa sorte é que temos uma gastronomia extraordinária, cheia de sabores e cheia de criatividade. Porque caso contrário, se estivéssemos à espera que a grande maioria dos restaurantes tradicionais nos surpreendessem, podíamos esperar sentados. Ainda no episódio da semana passada, o chef perguntou-se se valia a pena sair de casa para ir a um restaurante comer um bife comum com batatas fritas comuns e arroz branco comum. Eu respondo: NÃO. Não vale a pena. Quando vou jantar fora eu costumo dizer que gosto de comer aquilo que não como em casa. Mas quando vou jantar fora com os meus pais, que preferem restaurantes mais tradicionais, a ementa não se altera há anos. Eu sei que quando vou a determinado restaurante vou comer X, Y ou Z - e na maioria das vezes, nem tenho assim tantas opções.
Felizmente chegaram os restaurantes alternativos, com comidas do mundo ou com comidas tradicionais com um twist, com a criatividade que eu sentia falta. A cozinha é amor, como Ljubomir está sempre a dizer. E é mesmo. É pena é haver tão pouca gente em restaurantes a cozinhar com amor. É mais panelões de arroz e doses exageradas de batatas fritas e siga o baile. Todos os dias a mesma ladainha. Que triste que deve de ser trabalhar assim, não é?
Eu gosto de ver o programa pelo conceito e por conhecer melhor a nossa realidade. E gosto do chef - ui, ui, se gosto! Não é cá de merdas, diz o que pensa, é um bruto mas com bom coração. Eu sei que ele às vezes exagera e diz coisas sem necessidade, mas esse é o formato do programa. É suposto ele ser assim. Basta ver o do Ramsey (que eu já era fã).
Se ainda não viram, vejam. E esqueçam o lado sensasionalista - que também não aprecio - e olhem só para o mais importante que são as técnicas que o chef mostra, as dicas, os métodos de gestão... É isso que eu retenho e é isso que me dá tanto gosto ver. E acreditem ou não, mas consigo aprender coisas!
Bom, aos domingos à noite já sabem que vou estar no sofá, com a minha mantinha e a minha caneca de capuccino a ver o chef Ljubomir a desancar num dono de um qualquer restaurante que faz diárias a 5€. E adoro!
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