quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

Assim Nasce uma Estrela



Confesso que comecei a ver com algum preconceito. Não tanto como antes, porque entretanto já tinha ouvido dizer muito bem dele, mas Assim Nasce uma Estrela tem ali uma combinação de coisas que me desagradam à partida: uma história cliché e previsível - que o é, vamos todos admitir -, um quase-musical - que é melhor que um musical, mas ainda assim... - e a Lady Gaga.


Estava muito pronta para não gostar do filme, para resistir à moda de dizer maravilhas sobre ele, de gozar com a história melo-dramático-coiso, mas correu tudo mal. 


Eu gostei do filme. Pronto, já disse.


Se é a última Coca-Cola no deserto? Se fiquei assoberbada? Se vou recomendá-lo a todos os meus amigos? Bom, isso não. E acho que é um filme para ser nomeado para os Oscars? Também não, mas o Black Panther está na lista, portanto, why not?


O filme conta a história de Jackson, um cantor famosíssimo, mas em decadência devido ao álcool, drogas e depressão, que conhece Ally numa feliz coincidência, quando vai a um bar e a ouve cantar La Vie en Rose. Os dois apaixonam-se e Jack ajuda Ally a tornar-se, também ela uma estrela. Porém, os comportamentos autodestrutivos de Jack trazem o drama e o desespero para a história. Não vou fazer spoilers, mas a história é, basicamente esta. Uma história de amor que é toda flores e unicórnios no início e que termina mal... Muito mal.


Portanto, tal como eu disse no início, um cliché. E não há nada de errado em ser um cliché super previsível, até porque o que importa é como a história é contada, bem como todos os pequenos pormenores que são acrescentados ao filme e que o tornam especial. São aqueles pequeninos apontamentos do nosso quotidiano, de como as relações reais são que faz com que seja fácil de gostarmos e de nos relacionarmos com esta história. E aqui é preciso dar a mão à palmatória: a Lady Gaga está muito bem neste filme. Mesmo, mesmo muito bem. Como cantora e como atriz. A miúda tem talento, é genuína, e é perfeita para este papel de Ally. Merece, sem dúvida, a nomeação para Melhor Atriz - mas não merece ganhar, está bem? É só mesmo a nomeação! Conseguimos vê-la por trás de toda aquela produção das perucas estranhas, das maquilhagens exageradas e dos vestidos de bife do lombo. Que bom que é vê-la assim. Já o Bradley Cooper, que dizer, ele está sempre bem, sempre muito dentro da personagem, por vezes até de forma perturbadora.




As músicas são bonitas, muito mais bonitas de ver no filme do que de as ouvir na rádio sem contexto. E mais uma vez, a Lady Gaga está de parabéns. Escusado será dizer que a minha favorita é La Vie En Rose, que nunca achei poder gostar quaaaaaaase tanto de uma versão como da original. E olhem que a Madonna tentou e não deu certo. Depois de a ouvir cantar isto - e eu sei que ela cantaria tão bem ao vivo como na gravação - só consigo pensar: como é que esta rapariga anda a cantar "Ra Ra Ra a a, Roma Roma Ma" e outras porcarias que só escondem o verdadeiro talento dela? Que pena que é.


Assim Nasce uma Estrela é um filme bonito de se ver, com um guião consistente e com diálogos belíssimos e esses sim, muito pouco cliché. O Bradley Cooper fez um bom trabalho não só como ator, mas também como realizador - que grande estreia nestas andanças. Há ângulos bonitos, há luz e momentos absolutamente deliciosos do ponto de vista técnico. Podemos dizer que o filme vale no todo, pelas músicas, que não sendo extraordinárias, são perfeitas para o contexto, pelos atores, pela história, mesmo cliché,... Bom, é um todo.


Esta cena e a que se sucedeu aos Grammy's foram as minhas favoritas.


Sei também que este filme já foi adaptado várias vezes e eu não vi, nem me lembro de ouvir falar de nenhuma delas, portanto, não posso comparar. Mas posso dizer que esta versão acompanha o avanço dos tempos, do meio, do marketing, da criação de personas - e ninguém sabe melhor sobre isso que a própria da Lady Gaga! - e do negócio virado para o lucro, sempre o lucro.


Vale a pena ver.


Assim Nasce Uma Estrela
(2018)
de Bradley Cooper
com Bradley Cooper, Lady Gaga e Sam Elliott


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