quarta-feira, 6 de março de 2019

Green Book



Já vos disse que Green Book foi o meu filme favorito dos Oscars? 
Já? Ups, I did it again...


E que feliz fiquei por vê-lo receber o maior Oscar da noite, totalmente inesperado, totalmente vindo do nada. As minhas fichas estavam todas no Roma, que também era bem merecido, mas nunca imaginei que Green Book fosse o vencedor. Não que não fosse bom - que o é! - mas  porque, tendo em conta a concorrência, havia mais filmes "à Oscar", como A Favorita ou Roma. Não sei se me entendem... Mas vamos lá falar sobre esta história.


Tudo decorre em 1962, nos EUA, altura de segregação e racismo. Tony Lip (Viggo Mortensen) é um típico italiano trabalhador, mas cheio de lábia e sempre pronto a trapaçar o outro. Trabalha como segurança de um bar, até que o patrão o informa que vai ter que encerrar durante 2 meses para obras e Tony vê-se desempregado e com uma família, que ama acima de qualquer coisa, para sustentar. Obrigado a arranjar uma solução para o seu problema, responde a uma oferta de emprego para ser motorista de um Doctor Shirley (Mahershala Ali). Descobre que Doctor Shirley não é médico, mas sim um grande pianista e que é negro. Apesar de Tony se mostrar bastante hesitante e desconfiado - especialmente por Shirley ser negro - aceita o emprego de o conduzir ao longo de 2 meses na sua tour pelo sul racista dos EUA.




A viagem trouxe-lhes muitos problemas, mas também mudanças maravilhosas para ambos os homens que, cada um à sua maneira, estavam cheios de preconceitos e de desconfianças. Nasce uma bonita amizade, sincera, honesta e protetora, ao mesmo tempo que cresce em ambos uma tolerância que não existia antes. Estas maravilhosas transformações acontecem ao longo de muitos pequeninos momentos salpicados ao longo do filme, que são incríveis relatos verídicos de dois bons amigos.




Em Green Book conseguimos ver os dois lados destes homens que, no fundo, retrata muito bem a sociedade de então - e, infelizmente, a de agora também. Don diz-se discriminado pelos brancos por ser negro e discriminado pelos negros por não ter hábitos, comportamentos nem partilhar da cultura negra. Vive num constante conflito pessoal sem nunca se conseguir definir perante si e perante os outros. Apesar de ser um prodígio nos palcos, convidado a aturar em todos os locais emblemáticos e contratado por todos os "brancos ricos e influentes", quando desce do palco é apenas mais um negro. No entanto, Don sempre foi um privilegiado, rico e bem sucedido. 




Por sua vez, Tony é um cidadão de classe média baixa, que tem que trabalhar muito para conseguir dar uma vida confortável aos seus filhos e que tem que passar por várias provações para conseguir uma vida estável, longe da máfia e da cadeia. E a questão é: quem é a vítima aqui? Há uma dualidade tão interessante de explorar que torna todo o filme, todo o guião tão mais rico e incrível.


Neste filme há um sem fim de assuntos a debater, como já perceberam, e inúmeras situações discriminatórias que mexem com as entranhas. Mas ao mesmo tempo é delicioso ver estas duas pessoas, tão distintas entre si, na cultura, no contexto, nos hábitos, a tentar conviver e a deixar crescer uma bonita amizade e a aprender um com o outro.




Não existiria filme sem o MA-RA-VI-LHO-SO trabalho do Viggo - que merecia mesmo o Oscar - e do Mahershala, que venceu o seu segundo Oscar de Melhor Ator Secundário. São ambos atores do caraças, pois conseguiram abandonar-se a eles próprios para assumir personalidades e comportamentos absolutamente distintas das suas. O Viggo teve que encarnar num italiano, que gesticula e que é tão extrovertido e cheio de lábia que é impossível não gostar dele. Mahershala tornou-se num Don cheio de "macaquinhos no sótão", um génio solitário, infeliz, extremamente talentoso e culto, cheio de boas maneiras e etiquetas, mas com a permanente questão do "afinal quem sou eu?" sempre presente no seu inconsciente.


Aconselho a todos a ver, de coração. 
Vão ficar rendidos.


Green Book
de Peter Farrelly
com Viggo Mortensen e Mahershala Ali





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