segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

We don't speak english here, sir!

Conhecer novas línguas é uma coisa que gosto mesmo muito de fazer e gostava de poder investir mais tempo a aprender italiano, por exemplo, ou alemão! Também por isso, no cinema a língua nunca foi um entrave para mim. Tanto vejo uma série francesa como um filme árabe com o mesmo entusiasmo, mas sei que a maioria das pessoas não vai além do inglês/americano, o que é uma pena. Tal como diz Bong Joon-ho, o realizador coreano que criou Parasitas, quando ultrapassarmos a barreira da língua, vamos começar a conhecer coisas maravilhosas. E é exatamente isso que eu acredito. 

Já tinha escrito um texto sobre filmes incríveis em língua não inglesa e agora decidi escrever sobre séries boas faladas em italiano, alemão e português do Brasil. Experimentem ir além do que é "comum" e vão encontrar verdadeiras relíquias!


Baby 
Itália

A história de Baby passa-se no meio escolar com Ludo e Chiara como melhores amigas e personagens principais. A escola que frequentam é considerada de elite, onde a grande maioria dos estudantes são de classe alta, muito ricos e cheios de posses. É também neste meio que vamos começando a encontrar todos os podres: droga, traição, ciúme, desonestidade e muito, muito pior. 

Ludo é um espírito livre, super carente por nunca ter conseguido conquistar o coração do pai, e procura nos homens essa atenção que nunca teve... os chamados daddy issues, né? Também procura uma forma fácil de ganhar dinheiro para ajudar a mãe que tem um estilo de vida, claramente, num patamar demasiado superior face às suas posses... Mas as aparências são para manter. Já Chiara é a menina perfeita: excelente aluna, a melhor atleta da equipa, linda, educada... Mas muito frustrada com a vida perfeita que leva. Não lhe falta nada e sente que lhe falta tudo. Quando conhece Ludo e, mais tarde, Damiano a sua vida dá uma volta de 180º e nunca mais nada voltará a ser o que foi. Damiano é "o novo aluno" na escola de elite. É um rebelde, um bad boy sem amigos e que deixa as miúdas todas caídas por ele. É filho de um diplomata e vive uma vida de luxo cheia de regras que não o demovem de cometer loucuras, e tal como Chiara, falta-lhe atenção. Estes três acabam por se envolver com Fiore, um criminoso da noite - e um gatssssoooo - e aí tudo muda. Ao entrar num mundo paralelo de dinheiro, poder e sexo, os adolescentes vão ver-se obrigados a fazer escolhas que vão influenciar para sempre as suas vidas.

A série tem 3 temporadas, é falada em italiano a 100% e é ligeiramente baseada numa história verídica de uma rede de prostituição descoberta em Roma que envolvia estudantes de uma escola de elite e até alguns pais.

Apesar de não ser uma obra de arte, a série está bem montada, as personagens são muito bem construídas e cativantes e o encadeamento das cenas está bem feito. É boa para ver entre séries densas e complexas. Aconselho nem que seja só para aprender um pouquinho de italiano!


Dark 
Alemanha

Já sei que fui a última pessoa no Planeta a ver Dark e aviso já que tenho uma opinião polémica. Minto... Eu comecei a ver Dark em 2017, quando saiu a 1ª temporada, e adorei o primeiro episódio. Só quando me apercebi qual era realmente o assunto é que desanimei e ao terceiro episódio, desisti. Estava a contar com uma série mais de serial killers do que propriamente de viagens no tempo. Já tinha dito aqui várias vezes que esse assunto não me é nada cativante, mas a verdade é que adorei a cinematografia da série. As cenas são lindíssimas, a luz, a escolha das cores, tudo tão estruturado e tão bem pensado que me fez ponderar "olha... talvez veja!". 

Não aconteceu em 2017, mas em 2020 dei-lhe uma segunda oportunidade. E agora vem a parte dramática: confesso que terminei a série a custo, não porque a série é má - I mean, a série é maravilhosa -, mas o tema é mesmo muito entediante para mim. Sempre me disseram que Dark é um típico "come-caco" e é, mas também não achei assim tãaaaaaaaao complexa quanto isso. É difícil acompanhar no início porque não conhecemos as personagens e os seus eus passados e futuros, mas depois de percebermos isso, não é tão complexo assim. Quanto ao final, prometeram-me algo épico e eu achei um belo final, o melhor final que a série podia ter, but yet, not my cup of tea.

Bom, para quem nunca viu a série deve pensar que estou a escrever palavras à toa, porque nada disto faz sentido, não é? Entendo! Vou fazer só aqui um mini-mini-mini resumo da série, porque se contar mais, faço spoiler e eu não sou dessas. A história acontece numa pequena vila na Alemanha onde todos se conhecem. É quando Mikkel, uma criança, desaparece no meio da floresta, junto a uma gruta muito misteriosa, que tudo começa a adensar-se. Para onde foi Mikkel? Será que o desaparecimento dele está ligado ao desaparecimento do seu tio que aconteceu muitos anos antes? E o que é que esconde essa gruta? Bom, não vos posso responder a estas perguntas, mas aconselho a que vejam a série. É também uma ótima maneira de testarem a vossa capacidade com aqueles exercícios de parentesco tipo "Se a filha de Maria é mãe do meu filho, qual é o meu grau de parentesco com Maria?". Entendem a confusão. Pronto, são 3 temporadas disto. Enjoy.

Vamos então esclarecer: Dark é uma série do caraças! SUPER bem feita, imagens lindas, bons atores e uma história muito coerente e bem defendida. Mas o tema não é a minha cena, portanto, não é das minhas séries favoritas. Se viagens no tempo, Stranger Things e essas coisas são a vossa cena, então vejam que isto é mesmo muito bom.

Dark tem 3 temporadas e é falada em alemão.


A Coisa Mais Linda
Brasil

E agora para algo totalmente diferente... Se ainda não conhecem a Maria Luíza, ou Malú para os amigos, não sei de que estão à espera. Ao contrário de Dark que não era a minha cena, A Coisa Mais Linda tocou-me ali naquele pontinho do meu coração que o faz fraquejar sempre: a Bossa Nova. Uma série inteira dedicada à emancipação da mulher, à coragem e resiliência e a Bossa Nova sempre presente como personagem e como banda sonora. 

Enganam-se se acham que A Coisa Mais Linda é soft e branda e ligeirinha para se ir vendo... Não é malta. Fala de assuntos bem sérios como a discriminação de género, a violência doméstica e o fosso entre classes que existe no Brasil e em todo o mundo com mais ou menos destaque. A Coisa Mais Linda é desafio. Desafio ao conservadorismo, ao patriarcado, ao formalismo e à exigência da sociedade para com a mulher, de ser sempre perfeita, de se comportar, de seguir as regras e as ordens dos homens na sua vida, primeiro os pais, depois os maridos. Tudo isto é aligeirado por uma banda sonora linda, por paisagens brasileiras que me fazem até ponderar visitar o Brasil um dia (não sei se sabem, mas costumo dizer que o Brasil é o último país que gostava de visitar) e pelo sotaque mais meigo e alegre que há.

A história acontece no Brasil no final dos anos 50. Malú é uma menina linda e rica, que vive uma vida de luxo em São Paulo, protegida do "mundo real". Tudo perfeito, até que o seu marido decide abandoná-la para ir viver com outra mulher. Com o desgosto, e contra tudo e todos, Malú pega numa mala cheia de coragem e decide ir para o Rio de Janeiro. Depois de um encontro bem caricato com Chico, um cantor lindo e boémio, Malú decide abrir um bar de Bossa Nova. O que ela não pensava é que ia ser tão difícil alcançar esse sonho. Mas quantas mais dificuldades se atravessam no seu caminho, mais pessoas maravilhosas vai conhecendo e mais força ganha para seguir em frente. Malú começa a tornar-se a mulher que sempre foi, mas que nunca a permitiram ser. Nesse caminho transformador, acaba também por encorajar outras mulheres que se tornam suas amigas e este desenvolvimento pessoal e a busca do "eu" para além do que "esperam de mim" é inspirador.

Como estes temas são tão importantes para mim, gostei tanto da série que consumi de forma ávida as suas 2 temporadas. Talvez por isso nem consigo ser racional e objetiva com a minha descrição. Gostei tanto e acho uma série tão bonita, honesta e despretensiosa que merece ser vista por todos. É impossível acabarem A Coisa Mais Linda e sentirem-se igual ao que eram antes de a começarem a ver. Acho que é uma ótima sugestão para acabarem o vosso 2020 de uma forma mais leve e esperançosa! Vão por mim ;)

Ah! E para concluir, não se esqueçam de ouvir a banda sonora... De nada!

A série tem 2 temporadas e, felizmente, ainda não acabou. É falada em português do Brasil.


Sticky&Raw


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